quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

'Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade'

Se fosse obedecer ao que agora me diz o insistente diabinho da vaidade ou da soberba que habita em todos nós e, constantemente, nos desafia, sucumbiria ao silêncio. Ou, quem sabe, caso isso fosse possível, me ateria a uma coluna só preenchida – por quê não? –, em letras garrafais (ainda se usa essa expressão?), com a frase que dá título a estas últimas linhas do ano. Carlos Drummond de Andrade, que conheci pessoalmente e de quem fui contemporâneo (que honra!) no velho e sempre saudoso “JB” (lembra-se, leitor, desse grande jornal?), e de quem recebi o poema inédito “Minas Mineral” para publicar numa das suas edições especiais, coordenada por mim, é o autor desse belíssimo verso que, de maneira muito simples, diz absolutamente tudo.

O pensador e escritor francês George Bernanos, que, durante alguns anos, residiu na cidade mineira de Barbacena, também disse que “saber encontrar alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade”. Publicamos dele, na revista “Coluna”, do Centro Acadêmico Afonso Pena, da Faculdade de Direito da UFMG, artigo inédito – uma descoberta, com minha ajuda, do amigo e poeta Pierre Santos – dedicado ao também saudoso médico João Resende Alves. E foi nele que Bernanos nos deixou esta lição inesquecível, que me acompanha desde 1957: “A vida não é um problema a resolver, é um risco a correr – o maior de todos os riscos”. O ato de viver, além de arriscado, exige coragem. 

E é por aí, de risco em risco, que vou trilhando um caminho que a vida me ofereceu (pois, sinceramente, nem sei se de fato o escolhi…), cujo fim é uma realidade mais do que palpável, mas que sempre nos negamos a aceitar. Confesso, contudo, humildemente, que não é só a procura da felicidade que me preocupa e me leva a esse desabafo impróprio e talvez desnecessário. É a tristeza que toma conta de mim logo às vésperas do Natal. Não sei ao certo se a palavra perdeu mesmo a delicadeza que tinha antes, como disse, em sua coluna (“Natal Desesperado”), o cronista e cineasta Arnaldo Jabor. Nem se é o Menino Deus que me leva a refletir, sem dúvida com mais consciência, mais do que normalmente já o faço, sobre a verdade, a justiça e a compaixão.
É do meu irmão Otto Lara Resende a seguinte frase: “Todo mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino”. Talvez seja isso, a preocupação com o “anônimo” (que, por si só, vale pouco), que me deixa mais triste nas festas de fim de ano.

Ademais, elas me fazem recordar a minha infância (que deve ter sido boa…) e, também, de entes da minha família, que já se foram, e, simultaneamente, de velhos amigos, que, sem aviso prévio, igualmente se foram. Enquanto vivos, sempre me pareceram eternos.

Pior, todavia, do que a morte de familiares e amigos, talvez seja a decepção com alguns (ou com todos?) dos vivos, em todo sentido, que se transformaram em políticos ou agentes públicos, embora totalmente destituídos, desde sempre, de um mínimo de sensibilidade diante do sofrimento humano. O que se passa, por exemplo, no Rio de Janeiro, com o setor da saúde, dói como uma punhalada no peito. Mas nem por isso os responsáveis por essa calamidade deixam de dormir…

Perder a esperança é puro desperdício. Que nossos atuais (e futuros) governantes botem a mão na consciência e, enfim, sucumbam a estas palavrinhas milagrosas: verdade, justiça e compaixão
Elas são indispensáveis à missão de nos representar.

Feliz Ano Novo para todos!

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