O país está bestializado, estuporado, em choque. Era sabido, temido e esperado que passaríamos por recessão muito ruim, pelo menos desde o início do ano. A crise, porém, se mostra muito pior a cada mês, de modo inesperado até para pessimistas. Apenas medo e desesperança incomuns parecem explicar o tamanho descomunal da regressão da atividade econômica, maior que a média já sombria das estimativas.
Foi o que se soube pelo resultado do PIB até setembro. Pelo andar da carruagem, a recessão de Dilma Rousseff será tão grande quanto a de Fernando Collor, a segunda pior da República. Ainda mais deprimente, os efeitos piores em emprego e salário ainda estão por vir.
O investimento em novas atividades e equipamentos produtivos encolhe faz nove trimestres –sim, dois anos e três meses. Em quatro trimestres, no ano encerrado em setembro, baixou 11,2%, desgraça inédita em extensão e profundidade faz pelo menos 20 anos.
Na aritmética simples, o investimento tem sido o fator maior de afundamento da produção e da renda do país, mais ainda que o consumo, que leva fatia maior do PIB. Tamanho colapso do investimento significa desconfiança abissal no futuro, um apagão da esperança.
Sim, o buraco negro que traga a vontade de investir tem escaninhos variados. De mais imediato, há, por exemplo, a ruína de grandes empresas do país, enroladas na roubança, o que afeta uma cadeia de dependentes. Há o efeito do corte de investimentos do governo, de seus pagamentos atrasados.
Mas note-se outra vez que o colapso da confiança empresarial começou faz mais de dois anos, em um pantanal em que se misturam queda de rentabilidade de empresas, política econômica doidivanas, intervenções dementes do governo no mercado, desânimo do consumidor, bancos progressivamente na retranca e, sim, tumultos na economia e finança internacionais.
Enfim, é difícil dizê-lo com números, mas é razoável argumentar até que o revertério geral que começou em junho de 2013 e a exasperação que se seguiu até meados de 2014 tenham contribuído para envenenar os espíritos. De resto, em alguns casos, o ânimo já começava a ficar amargo também devido à piora na economia (inflação persistente, tumultos no mercado causados pelas inépcias de Dilma Rousseff, anos de ruína da indústria).
Isto posto e mais ou menos sabido, "antigamente as coisas eram piores, mas foram piorando", na frase de Paulo Mendes Campos. Há uma rara depressão simultânea de ânimos, da parte de consumidores e empresas.
Avaliações feitas por meio de matemáticas e estatísticas econômicas indicam que tamanha recessão pode ser explicada apenas quando se dá um peso anormalmente grande ao colapso da confiança (em si mesma em baixa histórica).
Juros, corte de gastos do governo, renda do trabalho, endividamento do consumidor, nada disso parece bastante ruim para explicar a profundidade da crise –mesmo a retração no crédito parece mais fruto de medo e escuridão total das perspectivas do que de "fatores reais".
O apagão do futuro se deve não apenas ao desgoverno absoluto mas ora à absoluta falta de alternativas, no esboroamento da política, que ora parece sem fim.
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