Só que o mundo não é 100% racional. Na verdade, quando entramos no terreno da história, a objetividade evapora. O problema não é a inexistência de fatos aferíveis, mas o modo como os encadeamos e procuramos encaixá-los numa narrativa coerente. As possibilidades são tantas que tornam a tarefa sobre-humana.
Qualquer evento histórico é fruto de um número tão grande de interações entre pessoas e ocorrências (climáticas, econômicas etc.) que é simplesmente impossível calculá-las. Só que nossas mentes não se acanham diante da intratabilidade do problema e adotam sua hipótese favorita como eixo explicativo, ignorando tudo que não se encaixe nela.
Para agravar o quadro, a própria memória, que Le Goff definiu como a matéria-prima da história, é mais do que traiçoeira. Experimentos neurocientíficos mostram que o conteúdo de nossas lembranças é modificado ao sabor de nossa subjetividade a cada vez que as acessamos.
O resultado, paradoxal, é não apenas que o passado se torna presa fácil de narrativas ideologicamente motivadas, mas também que é muito mais incerto do que se imagina. O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro.
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