sábado, 28 de novembro de 2015

O escárnio é geral


Três semanas depois o desastre ambiental, provocado pela negligência da Samarco, braço da Vale e da BHP Biliton, continua a ser temperado em banho-maria. sob o sempre cúmplice olhar político-governamental.

"Seria triste e – atrevo-me a dizer – até catastrófico se os interesses particulares prevalecessem sobre o bem comum e chegassem a manipular as informações para proteger os seus projetos". A observação veio de longe no espaço e imensamente distante da moral brasileira. A fala do Papa Francisco em Nairobi cai como carapuça justa para a série de crimes, em dois estados, perpetrados pelo rompimento da represa da Samarco.

Não foi pouca coisa o que a mineradora cometeu. É tão ou mais criminosa do que a corrupção das empreiteiras no petrolão, que se pode converter com prisão e recuperação de dinheiro.

Como limpar o equivalente a 20 mil piscinas olímpicas de resíduos de lama tóxica contaminando solo, rios e o sistema de água numa área de mais de 850 quilômetros, segundo relatório da ONU? Estocariam esse material aonde se fosse possível recuperá-lo? Como ressarcir os danos sociais do desemprego e da extinção de grande parte da economia local à beira do rio Doce ou do mar de Regência? Como garantir que a lama, no fundo do rio, não continuará por décadas a causar contaminação aos habitantes que usam aquela água, inclusive para a lavoura e criação? Muitos crimes e o tempo passa sem indiciados sequer.

Dilma foi ridícula ao afirmar que o rio voltará a ser melhor do que era. Só uma desqualificada mental pode se achar acima da natureza. E mais flagrante foi ter sido cúmplice ao qualificar, por decreto, o rompimento da barragem como "desastre natural" .

O assassinato do rio Doce com a condenação social de quem vive às suas margens, segundo governo e empresas, deverá ser creditado ao meio ambiente, que ficou na rota de fuga da lama. Pois nada mais cretino do que a "coincidência" dos anúncios dessa sexta-feira. O governo, através de ação pública, pretende cobrar um fundo de R$ 20 bilhões da Samarco, Vale e BHP, mas as mesmas empresas anunciaram, horas antes, que pretendem criar um fundo, ainda sem cifrões, para socorrer a região. O dinheiro do fundo viria das empresas, dos governos, dos empresários interessados e de organizações internacionais.
Quer-se mais cretinice do que as culpadas criarem um fundo com as inocentes para ajudar a limpar a lama? 

Assim uma enxurrada de escárnio cimentaria de vez o crime de que os interesses empresariais estão acima da vida.

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