Mas é obrigada a se render e manter Levy no cargo, ao menos por enquanto. Neste momento a troca de comando da área econômica seria um desastre. Arrastaria, mais ainda, o governo para o precipício, aprofundaria a instabilidade econômica e política, sinalizaria para o mercado que a austeridade fiscal é de mentirinha.
Foi o instinto de sobrevivência, e não a convicção, que levou Dilma a prestigiar seu ministro da Fazenda.
Há aqui um conflito de interesses. A preocupação de Dilma é com ela própria, é conseguir terminar o seu mandato. E Lula tem os olhos fixos em 2018. Em um quadro de desemprego, inflação alta, e cortes para todos os lados, inclusive nos programas sociais, sua pretensão de voltar ao Planalto irá por água abaixo. Para mantê-la, urge derrubar Levy, substituí-lo por alguém que se disponha a dar um cavalo de pau na economia.
Tanto quanto a presidente ele tem consciência de que não há na prateleira governista outra política econômica minimamente responsável. Mas quem disse que ele está preocupado com isso.
Se necessário for, reeditará Orestes Quércia, o ex-governador que enterrou o Banespa e as estatais paulistas, e dirá: “quebro o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, mas me elejo”.
Neste cabo de guerra entre a criatura e o criador, a presidente sempre cedeu às pressões do seu tutor. O “imexível” Mercadante dançou. Quem garante que o mesmo não acontecerá com Joaquim Levy?
Entre o mar e o rochedo, está o país, que nem a atual presidente nem o ex parecem se preocupar.
É o Brasil que sai perdendo ao ter um Ministro da Fazenda com autoridade dilacerada, questionado e bombardeado por todos os lados, principalmente pelo partido da presidente.
A essas alturas, Levy é pouco mais do que um pato manco, de credibilidade baixíssima por não ter entregado o que prometeu. É atacado pelos petistas mais por suas qualidades do que por seus defeitos, que, diga-se de passagem, são vários.
Por volta do primeiro semestre, quando ainda pintava como o novo Delfim da economia, Levy vendeu terreno na lua ao anunciar o retorno do crescimento econômico já no terceiro trimestre de 2015. Seu pacote teve efeito quase nulo, impotente que foi para fazer frente a uma queda do PIB de 3% já apontada na pesquisa Focus, a uma inflação de 9,75%, no acumulado dos últimos doze meses, e a um déficit nominal que se aproxima da casa de dois dígitos.
E começou a balangar na jaqueira no momento em que cedeu, aquiesceu e passou a tecer loas ao patético orçamento deficitário, a maior trapalhada de uma equipe econômica, após o confisco das cadernetas de poupança da era Collor. A erosão de sua imagem, inclusive no meio empresarial, se acentuou com os ziguezagues do cria não cria a CPMF.
Não é culpa dele, como Lula e companhia querem fazer crer. Mas sob sua égide, o Brasil foi rebaixado pelas agências de risco, está na iminência de perder o investiment grade. E o superávit primário de 2015, inicialmente previsto para ser de 1% do PIB, foi rebaixado para 0,15% e nem isso vai ser cumprido.
Assim fica difícil manter-se no pé. Do jeito que vai, não será preciso nem balançar a árvore. A jaca pode cair de madura. Ou podre.
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