Emparedada por não poder repetir as pedaladas, sob pena de, aí sim, dar motivos para o impeachment, pois estaria cometendo crime de responsabilidade no exercício do atual mandato, a presidente quer que deputados e senadores decidam onde passar a navalha nas despesas públicas e quais impostos devem ser criados para cobrir o bilionário rombo do Orçamento de 2016.
Rigorosamente falando, a presidente quer socializar o pepino com o Parlamento após o naufrágio da tentativa de recriar a CPMF, uma aventura que não se sustentou por mais de três dias. O desarranjo é de tal ordem que, pela primeira vez, o governo admite o fechamento no vermelho das contas públicas, no próximo ano.
A confissão do fracasso possibilitou duas leituras. Na primeira, dos governistas cheios de otimismo, a medida seria um avanço e teria efeito pedagógico no Parlamento. Afinal, argumentam, dos males o menor, é melhor ter um orçamento real e transparente do que uma peça de ficção, com pedaladas e outros penduricalhos típicos de soluções ortodoxas.
A outra leitura é a de economistas, jornalistas especializados e do próprio mercado. A decisão do governo revela debilidades altamente preocupantes. A saber: o enfraquecimento nítido do ministro Joaquim Levy, constantemente derrotado pelos “estatizantes” do núcleo duro do Planalto. Ela também coloca na marca do pênalti a avaliação do Brasil pelas agências internacionais de risco.
O subtexto embutido no inusitado orçamento deficitário será interpretado por essas agências como o abandono, pelo governo, do superávit primário, um dos pilares da boa política econômica, adotado em 1999. O passo seguinte pode ser o rebaixamento da nota do país.
Quanto ao ministro Levy, está patente a sua perda de oxigênio. No time econômico de Dilma o capitão não é ele, é Nelson Barbosa. E o mandachuva é Aloizio Mercadante, essa destacada mediocridade. Bombardeado a montante e a jusante, pela FIESP e pelo braço esquerdo do lulopetismo, os ditos movimentos sociais, Joaquim Levy anda meio grogue e com as pernas cambaleantes.
Outra debilidade, ainda mais grave, a absoluta falta de uma estratégia do poder central para reorganizar as finanças públicas.
Neste governo as coisas acontecem assim. Qualquer planejamento com mais de quatro dias é exercício de futurologia. Ou não foi assim na última semana?
Dilma sempre foi verticalista e de decisões monocráticas. De uma hora para outra, muda a postura, joga a criança no colo do Congresso Nacional, e diz ”toma, que o filho é seu”. Com que propósito?
A presidente quer tirar a castanha do fogo com as mãos dos parlamentares. Como não há o menor espaço para a criação de novos impostos, o único caminho para cobrir o rombo de mais de R$ 30 bilhões seria cortar despesas obrigatórias. Leia-se cortes em programas sociais, contenção de salários dos funcionários públicos, regras mais rígidas para a aposentadoria.
Mas a primeira mandatária prefere dar uma de “João Sem Braço”, para cima da Câmara e do Senado. Imagine o quanto as galerias das duas Casas ficarão lotadas de aposentados e servidores públicos, para não falar dos sindicalistas da CUT e de outras Centrais?
Esperta, a presidente.
Só se esqueceu de um detalhe: ali no Parlamento o mais ingênuo tira as meias sem descalçar os sapatos.
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