sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Nota baixa

Algaravia é uma tremenda duma palavra feia. Mas existe. E se existe podemos, então, usá-la.

Segundo os dicionários, algaravia é uma confusão de vozes, linguagem confusa, embrulhada. Algo assim como um discurso de Cantinflas, aquele cômico mexicano que recitava longas algaravias, recheadas de muitas palavras e nenhum sentido.

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O rebaixamento do grau de investimento do Brasil pela agência de risco Standard & Poors provocou uma tremenda algaravia nas hostes de governistas e assemelhados próximos ou distantes.

A primeira voz, claro, é do condestável da República, o Grande Timoneiro Lula, que é ao mesmo tempo inventor e sustentáculo do governo Dilma e mentor da “oposição por dentro” aos apertos orçamentários que ela precisa mas não consegue fazer.

Lula disse que o rebaixamento da nota do Brasil pela S&P “não significa nada”. Quando a S&P deu o grau de investimento ao Brasil em 2008, ele mesmo disse que estavam dando ao Brasil um “atestado de país sério’. Quando foi que ele falou bobagem: ontem ou em 2008? Não éramos sérios antes ou não somos agora?

Mas o diz-e-depois-desdiz de Lula não significa nada, diante do histórico de contradições que compõem sua trajetória de metamorfose ambulante.

Significativo é que a declaração de Lula tenha sido feita num momento em que ele estava em Buenos Aires ao lado de Cristina Kirchner, a presidente da Argentina, simbolizando que o caminho para a “argentinização” da nossa economia talvez esteja mais perto do que possa imaginar a nossa vã filosofia.

Nelson Barbosa, o ministro do Planejamento, disse que a decisão da agência de risco foi “uma surpresa”. Parece que todos sabiam, menos o ministro que planeja.

A algaravia ganhou a participação especial do heroico ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chamado a dar explicações sobre o rebaixamento da nota do Brasil ao Jornal da Globo, ancorado por William Waack, que o bombardeou com perguntas incomodamente pertinentes.

Levy, com aquele olhar levemente vagotônico de quem não entende bem como é que foi parar no meio de um governo sem eira nem beira, onde é visto como uma borboleta num formigueiro, se pôs a recitar algumas banalidades, tipo:

“A baixa popularidade é uma possibilidade de aumentar ela”. Ou: “O rebaixamento (da nota) do Brasil é apenas uma avaliação". Ou ainda: (A Operação Lava Jato) é uma coisa bacana do Brasil”.

Mas essas não foram as frases mais chocantes de Levy. Para o dia seguinte ao do programa da Globo, ele guardou a iguaria mais fina:

“Os brasileiros devem encarar o aumento de impostos como um investimento”.

Essa frase foi demasiada até para um extraterrestre como Joaquim Levy, tanto que ele nem tentou dar-lhe um sentido. Limitou-se a dizer que “o país agora precisa trocar a fiação" e que o governo vai tomar algumas medidas até o fim do mês. Quais medidas? Um mistério.

O governo está estudando aumentos de impostos que não tenham que passar pelo Congresso, simplesmente porque pelo Congresso não passariam. Nem Renan Calheiros nem Eduardo Cunha, presidentes das duas casas do Legislativo, querem ter algo a ver com as desgraças econômicas do País, embora parte da responsabilidade pela aprovação de projetos arrasa-quarteirão dos cofres públicos tenha que ser dividida com eles.

Também do Congresso, que ultimamente tem produzido mais escuridão do que luz, veio o protesto do deputado petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, que não levou a sério o rebaixamento da nota do Brasil “por aquela agenciazinha lá do fim do mundo”. (Nota: Jose Guimarães nasceu em Quixeramobim).

Mas do meio da tremenda algaravia produzida pela nota da Standard & Poors (que no dia seguinte, por sinal, rebaixou também a classificação da Petrobras), o silêncio que se tornou mais eloquente foi o da presidente Dilma. Um silêncio ensurdecedor.

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