quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Saídas manjadas, receitas vencidas

Sem margem de manobra e rejeitada pela ampla maioria dos brasileiros, a presidente Dilma Rousseff apela para fórmulas que já deram o que tinham de dar. Em uma ponta tenta salvar seu governo reaproximando-se dos chamados movimentos populares, uma espécie de reedição do caminho trilhado pelo governo Lula na época do escândalo do mensalão. Na outra, procura superar a balcanização de sua base parlamentar com o aprofundamento do presidencialismo de coalizão. É mais do mesmo.


O “diálogo” presidencial volta-se para esses dois atores da cena política e tem como objetivo se contrapor ao clamor das ruas. Com essas, não tem entendimento, não tem pedidos de desculpa. Qualquer manifestação contra o seu governo será acusada de crime de lesa-pátria, coisa da turma do quanto pior, melhor. Ou esse não foi o sentido das palavras da própria presidente no Maranhão?

À Dilma importa ganhar tempo, empurrar a crise com a barriga para conseguir levar o seu governo até o fim, mesmo que aos trancos e barrancos. Nesse sentido, assinará em baixo e concordará com todos os itens da Agenda Renan, mesmo tendo plena consciência de que seu partido e os ditos movimentos populares serão os primeiros a estrebuchar. Sabe ela que os itens dessa agenda são rubrica de longo prazo e dificilmente se materializarão na sua gestão.

A questão é saber se remédios tão antigos terão eficácia diante da maior crise da história do Brasil dos últimos tempos.

Há uma diferença da água para o vinho entre os primórdios do governo Lula e os dias de hoje. À época, planava-se em céu de brigadeiro, vivia-se o boom das commodities. Com gorduras para queimar, Lula pode fazer mimo aos movimentos sociais, em troca de seu bom-mocismo, de apoio incondicional. E com os endinheirados, parte deles encrencada na operação Lava-Jato.

Atualmente, as condições da economia impedem Dilma de acenar com qualquer bondade para esses movimentos, sem contar que o amancebamento levou ao esvaziamento de suas entidades, à perda de representatividade. No presente momento eles não têm poder de mobilizar amplas massas. O exército de Pedro Stédile é mera figura de retórica e a UNE tem peso pena na sociedade.

Junto aos bem-aventurados a presidente teve de suspender as benesses do BNDES e propor ao Congresso o fim das desonerações, que ela tanto prezava.

A estratégia de Dilma está minada por suas próprias contradições internas. Como manter no mesmo barco Joaquim Levy e os movimentos sociais que pedem sua cabeça? Ela pode seguir o conselho de Lula e dar um cavalo de pau na economia?

Evidentemente que não. Se abrir um pouquinho o cofre da União para aplacar os ânimos da base aliada, do PT e da CUT, a leitura do mercado, das agências de avaliação, dos especialistas e dos formadores de opinião será uma só: a presidente mandou às favas o ajuste fiscal.

O impacto negativo seria tremendo. A bola de neve se transformaria em avalanche, a Agenda Renan não teria serventia nem mesmo marqueteira.

Tampouco é fácil harmonizar interesses contraditórios no interior da base parlamentar do governo. Os partidos aliados querem ministérios de porteira fechada, com direito a nomear todos os cargos de segundo escalão. Ao mesmo tempo, não há hipótese de o PT largar o osso.

A margem de manobra de Dilma é estreitíssima, ou quase nula. E pelo menos dois fatores fogem de seu controle: a Lava-Jato - com novas delações em curso e Lula sendo puxado para o olho do furacão - e o próximo domingo.

Não há menor sinal de reconciliação entre a presidente e os brasileiros. Ao contrário, o sentimento de indignação aflorou mais ainda com as provocações grosseiras do PT, em seu programa de TV.

A probabilidade, portanto, é que no dia 16 de agosto multidões lotem as ruas das principais cidades do país, exercendo seu direito democrático de, pacificamente, protestar contra os descalabros do governo, contra a inflação, o desemprego e a corrupção.

Nas crises, conhece-se o grau de robustez das instituições e a determinação de um povo. Felizmente, o Brasil vai bem nesse teste. As instituições de Estado estão respondendo às exigências do momento e os brasileiros estão dando provas do seu amadurecimento. Já não se intimidam com o discurso do medo.

Hubert Alquéres

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