À Dilma importa ganhar tempo, empurrar a crise com a barriga para conseguir levar o seu governo até o fim, mesmo que aos trancos e barrancos. Nesse sentido, assinará em baixo e concordará com todos os itens da Agenda Renan, mesmo tendo plena consciência de que seu partido e os ditos movimentos populares serão os primeiros a estrebuchar. Sabe ela que os itens dessa agenda são rubrica de longo prazo e dificilmente se materializarão na sua gestão.
A questão é saber se remédios tão antigos terão eficácia diante da maior crise da história do Brasil dos últimos tempos.
Há uma diferença da água para o vinho entre os primórdios do governo Lula e os dias de hoje. À época, planava-se em céu de brigadeiro, vivia-se o boom das commodities. Com gorduras para queimar, Lula pode fazer mimo aos movimentos sociais, em troca de seu bom-mocismo, de apoio incondicional. E com os endinheirados, parte deles encrencada na operação Lava-Jato.
Atualmente, as condições da economia impedem Dilma de acenar com qualquer bondade para esses movimentos, sem contar que o amancebamento levou ao esvaziamento de suas entidades, à perda de representatividade. No presente momento eles não têm poder de mobilizar amplas massas. O exército de Pedro Stédile é mera figura de retórica e a UNE tem peso pena na sociedade.
Junto aos bem-aventurados a presidente teve de suspender as benesses do BNDES e propor ao Congresso o fim das desonerações, que ela tanto prezava.
A estratégia de Dilma está minada por suas próprias contradições internas. Como manter no mesmo barco Joaquim Levy e os movimentos sociais que pedem sua cabeça? Ela pode seguir o conselho de Lula e dar um cavalo de pau na economia?
O impacto negativo seria tremendo. A bola de neve se transformaria em avalanche, a Agenda Renan não teria serventia nem mesmo marqueteira.
Tampouco é fácil harmonizar interesses contraditórios no interior da base parlamentar do governo. Os partidos aliados querem ministérios de porteira fechada, com direito a nomear todos os cargos de segundo escalão. Ao mesmo tempo, não há hipótese de o PT largar o osso.
A margem de manobra de Dilma é estreitíssima, ou quase nula. E pelo menos dois fatores fogem de seu controle: a Lava-Jato - com novas delações em curso e Lula sendo puxado para o olho do furacão - e o próximo domingo.
Não há menor sinal de reconciliação entre a presidente e os brasileiros. Ao contrário, o sentimento de indignação aflorou mais ainda com as provocações grosseiras do PT, em seu programa de TV.
A probabilidade, portanto, é que no dia 16 de agosto multidões lotem as ruas das principais cidades do país, exercendo seu direito democrático de, pacificamente, protestar contra os descalabros do governo, contra a inflação, o desemprego e a corrupção.
Nas crises, conhece-se o grau de robustez das instituições e a determinação de um povo. Felizmente, o Brasil vai bem nesse teste. As instituições de Estado estão respondendo às exigências do momento e os brasileiros estão dando provas do seu amadurecimento. Já não se intimidam com o discurso do medo.
Hubert Alquéres
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