A máquina partidária, suas sedes e suas mesas de fórmica, seus armários cheios de impressos e brochinhos “old fashion”, com os carros de som alugados estacionados na porta, comporão um cenário de edificações físicas sem alma, sem povo, sem urbe, sem polis, sem enunciados. Ocasionalmente, o vento de uma ideologia antiga passará por ali, movendo a poeira do assoalho, mas, quando os vigias de plantão moverem os olhos para identificá-lo – que golpe de ar foi esse? –, só divisarão o vazio, aquilo que foi deixado para trás e para trás ficou. Não dirão nada uns aos outros, pois nada haverá para ser dito. Eles sempre souberam de tudo e terminarão seus dias precisando fingir, calados, que não sabiam de nada.
No começo da queda, o silêncio tinha sido uma escolha. Silenciar sobre pequeninas erupções de vergonha parecia uma saída política, parecia um ato voluntário racional. Os desvios eram tão menores – tão “pontuais”, eles diziam intramuros – que não mereciam declarações públicas. O silêncio, naqueles tempos, deveria ser “ouvido” pela Nação como se fosse uma pausa em meio à grande sinfonia triunfal da luta gloriosa contra a exploração do homem pelo homem. Mais do que isso, melhor do que isso, o silêncio ainda funcionaria bem como um índice superior de reprovação: não se diria nada contra os pequenos delitos, mas também nada se diria a favor deles. Eram coisas mínimas, quase desprezíveis, e o silêncio dos companheiros bastaria para condená-las à insignificância em que deveriam perecer.
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