sábado, 8 de agosto de 2015

Máximas de Ulysses, reincidência de Dirceu, aviso das ruas

"Não há Direito nem Liberdade para o mal". Eis uma das mais sintéticas e verdadeiras máximas de Ulysses Guimarães. O pensamento do saudoso parlamentar e estadista ganha especial relevância e atualidade nesta semana da nova prisão de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil do Governo Lula, já condenado por corrupção no processo do Mensalão (relatado no Supremo pelo ministro Joaquim Barbosa). Agora, reincidente, ele terá que responder pela agravante acusação de "enriquecimento pessoal ilícito”, perante o juiz Sérgio Moro.

Semana também do programa político do PT, apresentado em rede nacional na agitada noite de quinta-feira, 6, cheirando a fósforo e gasolina espalhada em pleno horário nobre da televisão brasileira. Ancorado pela presidente Dilma Rousseff e seus coadjuvantes petistas Rui Falcão, Lula e o ator José de Abreu (em desempenho mais caricato que do inverossímil e tresloucado mendigo que encarnou na novela "Avenida Brasil).

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Um espetáculo de incrível precariedade e insensatez sob qualquer ângulo de observação e análise. Medíocre, mambembe, quase chinfrim (tanto do ponto de vista do formato e do conteúdo geral - comparados com outros programas do gênero -, quanto sob o estrito ângulo de peça de marketing partidário ou de propaganda institucional).

Só superado, talvez, pelo inglório, grotesco e insano ato de provocação pública protagonizado, no plenário do Congresso, pelo senador e ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello (banido do cargo supremo de governo por corrupção), ao chamar (entre os dentes raivosos) o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de "filho da puta".

A reação negativa foi simultânea e para jamais ser esquecida. Enquanto o programa transcorria, levantou-se um clamor de ensurdecer, na noite das capitais e de centenas de grandes e pequenas cidades do País. Onda avassaladora de indignação e protestos: Caçarolaços, buzinaços, apitaços, foguetaços e todos os aços possíveis de imaginar. Além de momentos de marcante originalidade, sentimento ético e de cidadania. Emoção à flor da pele e tudo na direção contrária das cenas do programa petista na TV.

O exemplo mais bonito e significativo, talvez: o saxofonista tocando um solo de arrepiar do Hino Nacional na sacada de um prédio na escuridão da noite em Salvador, durante os 10 minutos de duração do programa do PT. No fim, com as panelas ainda batendo contra o show de arrogância, insensibilidade e provocação de Dilma, Lula, Rui Falcão e José de Abreu, os aplausos e gritos de entusiasmo das ruas, dirigidos ao músico da Bahia em sua sacada. O vídeo gravado começou a correr as redes sociais logo em seguida e não há peça melhor que sua exibição, na convocação dos protestos nacionais de rua contra a corrupção e o governo Dilma, marcado para o dia 16. A conferir.

E estamos de volta à máxima de Ulysses na abertura deste artigo. Está na coletânea das 100 melhores frases do parlamentar brasileiro. Recolhidas e selecionadas por sua mulher, Mora Guimarães, lustram e ilustram a abertura de "Rompendo o Cerco", livro referencial sobre lutas e pronunciamentos de Ulysses ao longo dos anos de resistência e brilho parlamentar.

Merece e deve ser relembrada nesta primeira semana de agosto (o mês promete ser digno como nunca da sua tradição de desgostos e eclosões de fatos surpreendentes na vida política nacional). Marcada por nova etapa da Operação Lava Jato - cada dia mais firme e inclemente na ação de profilaxia nacional contra malfeitos e malfeitores - que levou de volta à cadeia José Dirceu. Um quase renegado, atualmente, na cela da carceragem da PF em Curitiba.

"Rompendo o Cerco", cujo título é inspirado – a Bahia jamais esquecerá - na participação épica de Ulysses em episódio histórico de resistência nas ruas de Salvador, na noite do 1º de Maio de 1978, é referencial. Foi publicado antes do político desaparecer na trágica queda do helicóptero que o conduzia, em tarde de tempestade, na volta de um feriadão na região dos lagos (RJ) para São Paulo.

O corpo de Ulysses jamais foi encontrado. "Segue encantado no fundo do mar", crê firmemente e proclama por escrito em verso e prosa o advogado e poeta de Marília (SP), Luiz Alfredo Motta Fontana. Repórter da sucursal baiana do Jornal do Brasil, nos idos de maio de 78, recebí um exemplar das mãos de Ulysses, com uma das dedicatórias mais honrosas da minha vida profissional.

Isso é para dizer: Senti o espírito e as palavras de Ulysses flutuando, mais cedo, na encrespada quinta-feira, sobre o Congresso, no Planalto Central. E à noite sobre os céus do Brasil, durante o programa do PT e dos caçarolaços em Salvador e em todo País. Acredite quem quiser. Só lembro, para terminar, que é também do sábio timoneiro da política brasileira, outra frase lapidar e atualíssima: "Que beleza o convite de Jean Cocteau: Fechamos com doçura os olhos dos mortos. Com a mesma doçura devíamos abrir os olhos dos vivos". Grande Ulysses! Na mosca!

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