Jamais vi nosso país, como se fosse um cadáver putrefato, ser dissecado em público e com afiada disposição de extirpar e punir a corrupção que se apossou dele há muitos anos. Mesmo assim, embora ciente, como você, leitor, dos tumores que surgem a cada dia, não é fácil, repito, tomar posição em meio a esse indevassável cipoal de subterfúgios e mentiras em que se meteram os envolvidos, políticos ou não. De uma coisa, porém, tenho certeza: não se pode aceitar, em nenhuma hipótese, como solução para a grave crise sob a qual sucumbimos, qualquer tentativa de golpe contra nossas instituições democráticas, duramente conquistadas ao longo dos últimos 25 anos. Da minha parte, não teria saúde para suportar mais uma porretada dentre tantas que foram desferidas contra minha geração. Não quero enumerá-las, mas apenas dizer que assisto a esse trágico filme há mais de meio século. Um horror!
Nada disso, porém, tem a ver com o péssimo governo da presidente Dilma, que, desde o início do primeiro mandato, tanto política quanto economicamente, traçou o que seria o seu fim, mas, sobretudo, o que seria o início do segundo – um desastre, simplesmente. Um enorme desastre, que, de maneira nenhuma, pode ser imposto aos brasileiros, que, desde junho de 2013, descobriram o palco das ruas.
Depois, então, dessa sua última entrevista, concedida a três jornais brasileiros, quando, ao tentar fazer um mea-culpa nada convincente, para não dizer mentiroso – “Errei ao ter demorado tanto a perceber (no ano passado) que a situação era mais grave” –, anunciou inútil corte de ministérios, a presidente perdeu até mesmo o respeito a que lhe deveria pelo honroso cargo que ocupa. Na realidade, ao dizer que errou, acolheu, tardiamente, o conselho do ex-presidente Fernando Henrique, embora, na entrevista, o tenha considerado “solução fácil”.
Quando, em 2014, rejeitou a proposta da oposição de reduzir, substancialmente, o número de ministérios, a presidente deu o seguinte troco, ao exclamar assim: “Quero saber qual ministério e quem vai fechar! Essas secretarias poderiam ter outro status? Poderiam. Não perceber a importância do status é uma cegueira tecnocrática!”. Pois bem. A presidente Dilma passou a ocupar, com honra e gala, o primeiro lugar da lista de “cegos tecnocráticos” (ou mentirosos tecnocráticos?).
Mas a nova presidente Dilma, a do mea-culpa retardatário, se superou mesmo ao afirmar que ficou “completamente surpreendida” quando soube que militantes do PT se envolveram no megaesquema de corrupção descoberto na Petrobras. E disse isso depois de defender o ex-presidente Lula: “Não acho correto o que fazem com ele. Quero manifestar em alto e bom som que não concordo. Acho que tentam diminuí-lo, tentam envolvê-lo. Passam de todos os limites”.
O ex-presidente Lula, que Dilma defende, é o mesmo que, depois de se dizer traído no episódio do mensalão (“por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”), apresentou várias versões: tratou-o como tentativa de golpe contra o seu governo, como farsa, para, depois, afirmar que o mensalão foi invenção da oposição.
Estamos diante de quatro alternativas: da renúncia (um gesto de grandeza que a presidente, a meu ver, jamais terá); da desaprovação, pelo TSE, das suas contas de campanha; da desaprovação, pelo TCU, das contas do seu governo; ou, enfim, da sua desastrosa permanência na Presidência por três anos e quatro meses.
A última precisa, mais que tudo, da ajuda de Deus.
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