Ao contrário do que a presidente Dilma Rousseff costuma apregoar, não existe golpismo. Pelo contrário, as Forças Armadas estão tranquilas nos quartéis, cuidado de suas obrigações, não há Aragarças nem Jacaréacanga no horizonte, nada de novo no front. É até espantoso que não haja golpismo, num país tradicionalmente submetido a esse tipo de retrocesso político.
O que existe de novidade é uma insatisfação absoluta, uma decepção total, um desânimo assustador em relação à política e aos três poderes da República. É claro que não se deve generalizar esse tipo de análise. Estamos nos referindo apenas à faixa do eleitorado que tem instrução e preparo, que raciocina, chega a conclusões e ainda se interessa por política. Entre esses brasileiros, que na verdade formam a tão famosa opinião pública, o desalento é espantoso, porque até ponto tempo atrás a maioria dos eleitores realmente acreditava que o PT era um partido sério, integrado por políticos honestos.
Quando o então deputado federal Lula fez o desabafo na Constituinte e disse que havia 300 picaretas no Congresso, todos sabiam que ele estava falando rigorosamente a verdade. Tanto assim que alguns anos depois o esperto Fernando Henrique Cardoso se encarregaria de comprá-los por 30 dinheiros, equivalentes a R$ 200 mil por cabeça, para aprovar sua reeleição.
Pensava-se que ao chegar ao poder Lula levaria com ele os 300 de Esparta, mas ocorreu exatamente o contrário. Ele resolveu fortalecer os 300 picaretas de FHC, pagando caro e estabelecendo prestações mensais. Para tanto, criou diversas fontes de renda no governo e nas estatais, implantando a corrupção institucionalizada, com exigência de percentual fixo nos contratos do poder público, vejam a que ponto a desfaçatez chegou.
Hoje, já não há fantasia. Embora ainda não tenha realmente encontrado uma opção, pois os partidos existentes ou são verdadeiras quadrilhas ou defendem um sectarismo totalmente ultrapassado, a opinião pública brasileira não aceita mais esse tipo de político.
É por causa desse quadro político anacrônico e venal que alguns importantes jornalistas e intelectuais ainda continuam defendendo a permanência de Dilma Rousseff. São os últimos dos moicanos, como dizia o genial escritor James Fenimore Cooper. Com justa razão, eles têm pavor do PSDB e horror do PMDB, que são as duas possibilidades de sucessão. Mas em breve esses resistentes também jogarão a toalha e desistirão de defender Dilma, Lula e o PT.
Até os moicanos vão entender que qualquer uma das opções que se apresentam será melhor do que a eternização do PT: ou Aécio Neves, se houver cassação dupla por crime eleitoral, ou Michel Temer, se for cassação única, por crime de responsabilidade. Como se dizia antigamente, um pelo outro, eu não quero troca. Mas devemos aceitar qualquer um dos dois, na forma da lei, segundo a solução que for constitucionalmente encontrada.
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