A ambientalista, que mesmo sem aparecer mantém, segundo pesquisas, um capital político de mais de 30 milhões de votos, rompeu seu silêncio neste domingo com um texto que é duro e ao mesmo tempo mostra esperança e equilíbrio para exigir algo que para a opinião pública pode parecer óbvio, mas que embute uma revolução.
Diz isso com uma expressão gráfica e até guerreira, ela que se mostra sempre mais como um elemento de equilíbrio e pacifismo: “impõe-se evitar mexer mais ainda num equilíbrio institucional que já está precário, não usando poderes públicos como navios de guerra de onde os litigantes disparam contra os outros”.
Marina é clara e determinada na defesa da democracia ameaçada e pede que a sociedade fique alerta “contra a manipulação política de qualquer lado e contra todas as formas de pressão e intimidação sobre a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal”.
Faz suas as palavras de Ruy Barbosa, que afirmou que “a Justiça tardia nada mais é do que a injustiça institucionalizada”. E sem se deixar levar por pessimismo extremista, pede um sentimento de esperança, recordando sutilmente que “assim como saímos do impeachment de Collor para outro ciclo de evolução, com a estabilização econômica nos governos de Itamar e Fernando Henrique, que possibilitou avanços sociais no Governo Lula, da mesma forma podermos ser capazes de sair da crise atual para outro momento positivo”.
Marina, que é uma leitora e conhece bem a filosofia de Hegel faz sua a teoria da tese e da antítese. Segundo o filósofo alemão, a História somente avança, quando paralisada a situação, se é colocada em crise, para dar vida a uma nova tese, mais avançada.
As águas paradas acabam apodrecendo. Dos dramas se sai somente com a força de uma esperança de superação.
“Que o epílogo desse drama, quando ocorrer”, diz Marina, “seja o prólogo de uma nova história de afirmação da democracia no Brasil”.
Há quem acuse Marina de ser mais poeta que política, apesar de ter dedicado toda sua vida com fervor e rigor ético à República. Enganam-se. Pode-se ou não gostar de seu jeito de fazer política, sua intransigência contra a chamada “velha política”.
Talvez não agrade a algumas pessoas quando alerta em seu artigo que “boa parte dos que saem gritando ‘fora Cunha’ parecem querer apenas aproveitar a oportunidade de apontar um novo inimigo público para desviar a atenção dos gritos de ‘fora Dilma’.
Misturando realismo e esperança, a ambientalista afirma: “ninguém mais espera um comportamento minimamente virtuoso da maioria dos personagens no palco da política brasileira dos dias atuais. Mas se temos que respeitar as instituições que eles, infelizmente, dirigem tão mal, e respeitar a população que lhes confiou seu voto, temos também que manter viva nossa esperança de que a Justiça será feita e os erros serão punidos”.
Marina poderia ter acrescentado o pedido da Presidenta Dilma de que a tal Justiça seja feita “doa em quem doer”.
Ela avisa, com senso de responsabilidade, que o pior que poderia acontecer neste momento é que acabemos “jogando fora a criança junto com a água suja”. Ela não adere, portanto, à caravana dos que acreditam que “quanto pior, melhor”.
Marina, gostem ou não, surge como mulher e política coerente, que fala o que pensa e, quando não, prefere se refugiar no silêncio.
Há quem creia que nesses momentos de silêncio “se sente à beira do rio, ela que nasceu na selva, esperando ver passar o cadáver de seus inimigos”.
Desta vez, talvez, diante da gravidade da situação, tenha preferido sair à planície.
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