quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ao indicar Fachin, Dilma exibe menosprezo ao Congresso

Ficou na dúvida, escolheu o pior e agora não sabe o que acontecerá
O discurso que valeu a ida ao STJ


Quando surgiram as primeiras informações na internet sobre a indicação do professor Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal, ficou difícil de acreditar. Pareciam especulações, que podem ser desmentidas ou não. Diante do silêncio do Planalto, logo ficou patente que a notícia era verdadeira, embora só viesse a ser confirmada muitas horas depois, o que demonstrou que a presidente Dilma Rousseff ainda estava na dúvida e demorou até se decidir.
Ao escolher Fachin, ficou claro que a chefe do governo não estava apenas em busca de um jurista de notório saber e reputação ilibada. O que ela verdadeiramente pretendia era peitar o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), que há duas semanas havia alertado que os senadores não aprovariam um nome com “DNA do PT”.

Esta declaração de Renan foi indevida e importuna, não há dúvida, mas refletia o pensamento dos senadores. Esperava-se que a presidente da República, que precisa desesperadamente recuperar parte do prestígio perdido, desta vez indicasse para o Supremo um jurista de notório saber, reputação ilibada e isento, sem vinculação com qualquer partido político.

Mas Dilma bateu pé, fez beicinho e encaminhou ao Senado justamente o nome de um advogado muito ligado ao PT, que já chegou a ponto de pedir votos para o partido. Portanto, não tem a menor isenção, jamais poderia ser ministro do Supremo. Se fosse um simples juiz, jamais poderia participar de um julgamento que envolvesse o partido ou seus membros, pois teria de se considerar suspeito. E se Dias Toffoli não tem essa grandeza, como esperar que Fachin a tenha?

Não se trata de questionar seu notório saber, mas sim a neutralidade e a imparcialidade que se deveria exigir de um ministro do Supremo. Portanto, cabe uma reflexão sobre o que seja reputação ilibada. Afinal, que conceito é este? Fachin teria mesmo reputação ilibada? Para sabê-lo, certamente será necessário averiguar e analisar os contratos de seu escritório de advocacia, para saber quem eram seus clientes, com objetivo de apurar se prestava ou não serviços ao governo federal.

Chama a atenção o fato de ter participado de última campanha política, dando nítida impressão de compromissos político-partidários, inclusive quando atacou governos de FHC e defendeu os governos Lula, pedindo votos para Dilma. Terá este jurista a reputação necessária para manter a imparcialidade em seus votos? Sabemos que já houve indicação de advogado do PT, no caso, Dias Toffoli, mas agora estamos falando de um militante partidário.

Os jornais divulgaram que a presidente Dilma teria consultado o senador Renan Calheiros, que concordara e até se prontificara a defender o nome de Fachin. Será que Renan realmente mudou de opinião? Ou simplesmente deu força a mais erro político da presidente, para que ela seja novamente humilhada no Congresso?

Com apoio ou sem apoio de Renan, a perspectiva é de que Fachin deverá ter problemas na sabatina do Senado. Não é a primeira vez que um nome indicado pelo governo enfrenta resistências no plenário. O presidente Jânio Quadros, por exemplo, indicou o empresário pernambucano José Ermírio de Moraes para embaixador, mas o Senado recusou. Moraes ficou furioso, entrou na política e também se elegeu senador. Muitos anos depois, no leito de morte, fez os dois filhos (José e Antonio Ermírio) prometerem jamais entrar na política.

Agora, Dilma Rousseff se arrisca a repetir Jânio Quadros e ser derrotada no Senado. Ela hoje reina, mas não governa. E parece ter se tornado uma espécie de Rei Midas ao contrário, pois tudo o que Dilma faz acaba dando errado. Vai ficar na História como encarnação da célebre Viúva Porcina, criada por Dias Gomes, “aquela que foi sem nunca ter sido”
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Carlos Newton

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