sábado, 17 de janeiro de 2015

Nossa dívida


Depois de tudo que logramos fazer, estamos deixando uma civilização do medo para nossos jovens, nossas crianças e aqueles que ainda não nasceram: o medo do aquecimento global e de todas as consequências de um clima enlouquecido; o medo do desemprego em uma economia capaz de usar tecnologias milagrosas que descartam trabalhadores, em vez de criar tempo livre para ser usado livremente; o medo da droga que corrói o cotidiano de cada dependente e sua família; o medo da crescente desigualdade mundial, revelada pelo fato de que as 85 pessoas mais ricas do mundo detêm patrimônio superior a US$ 1,7 trilhões (US$ 20 bilhões per capita) equivalente à riqueza da metade da população mais pobre (3,5 bilhões de pessoas, resultando em US$ 685 per capita); a desigualdade que atinge a mais imoral de suas manifestações ao desigualar a esperança de vida conforme a renda de que a pessoa dispõe para pagar por serviços médicos; uma civilização que superou as desigualdades nobiliárquicas e construiu a desigualdade no direito de viver mais ou menos conforme a renda; sobretudo o mais visível medo, o da violência urbana crescente e do terrorismo impossível de ser controlado se não barrarmos as causas que o fabricam.
Cristovam Buarque em "Nós somos Charlie, nós estamos indignados, nós temos esperança"

Nenhum comentário:

Postar um comentário