Hegemonia pressupõe o contrário do que será o ministério de Dilma – e o que foi o ministério de Lula.
A reeleição,
por motivos óbvios, dispensa os ritos de transição, em que um presidente passa
a faixa a outro e equipes dos dois governos trocam informações para a sequência
administrativa. Dilma, claro, não passará a faixa a Dilma.
Não obstante,
o que se anuncia para seu próximo mandato, dada a mudança radical em
postos-chaves do ministério – Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento Industrial
e Agricultura, já anunciados -, é como se outro partido o assumisse.
Sai o, digamos
assim, heterodoxo Guido Mantega e entra o ortodoxo Joaquim Levy, discípulo de
Armínio Fraga, o mesmo que a candidata Dilma satanizou, como inimigo dos
pobres. Não se trata de cobrar coerência entre o que a candidata prometeu e o
que a governante fará. Isso é inútil – e já foi feito.
Trata-se de
saber como governará em tal ambiente, visto que as bases do PT já demonstraram
que não aceitam a novidade.
A presidente,
que não é exatamente um gênio político – nem sequer gosta da atividade -, terá
que administrar um quadro esquizofrênico que exigiria uma habilidade Talleyrand,
que não tem.
De um lado,
estão o mercado e a opinião conservadora, cuja expressão estatística já deu
mostras de que não é pequena. De outra, a base ruidosa da militância de
esquerda, que faz crer que é maior do que é. Essa base, a que faz coro o
presidente do PT, Rui Falcão, empenhou-se em trocar a candidata por Lula no
início da campanha. Não conseguindo, engoliu-a a força.
Ela quer de
Dilma o que não está politicamente em condições de entregar. A censura à
imprensa, por exemplo. E o plebiscito pela Constituinte exclusiva (como será
isso?) para, nos termos da proposta do PT, tornar a “sociedade hegemônica”.
Hegemonia
pressupõe o contrário do que será o ministério de Dilma – e o que foi o
ministério de Lula. Supõe um governo uniforme, com discurso único, sob a égide
uma mesma ideologia. O ministério Dilma é plural, vai da direita à esquerda,
passando pelo centro, subsolo e sobreloja. É o que, em política, se chama de
saco de gatos, de que o PMDB é símbolo.
Há dias, o
ministro Gilberto Carvalho, indagado sobre a presença da senadora Kátia Abreu,
presidente da CNA, no futuro Ministério da Agricultura, disse não estar
preocupado com quem comandará aquela pasta, mas com quem comandará o Ministério
do Desenvolvimento Agrário.
Aquela, sim, é
importante, na visão dele, pois é lá que se agregam o MST e os ativistas de
esquerda que combatem o agronegócio. Uma pasta neutraliza a outra, é o que
ficou implícito. Essa simples formulação vale um tratado a respeito do que têm
sido os governos do PT, que, sob a mesma estrela vermelha, reúnem invasores e
invadidos.
Funcionou até
aqui, argumentam os petistas, mas (se é que funcionou) a pergunta é: até
quando? A economia vai mal, os escândalos atingem níveis estratosféricos, a
presidente tem dificuldades em completar a escalação do ministério, receosa de
que algum escolhido seja citado na Operação Lava-Jato.
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