Dilma Rousseff obedeceu a uma lei de ferro da vida
eleitoral: como candidata vitoriosa, pronunciou um discurso que parecia ter
sido redigido por Aécio Neves, seu rival. Falou em mudar, não em conservar
o que já foi conquistado. Anunciou um acordo com os adversários, que, de
repente, deixaram de ser os inimigos do povo. Propôs uma aproximação com os
setores produtivos. E comprometeu-se a reduzir a inflação e buscar a
estabilidade fiscal. Esta correção do tom conceitual da campanha, em vez de
esclarecer, aprofunda os três grandes enigmas que a vitória apertada do PT
coloca no Brasil.
A primeira pergunta é como Dilma vai se movimentar no novo
tabuleiro do poder. Com seu discurso, a campanha da presidenta estimulou uma
contradição de pobres contra ricos, Norte contra Sul, povo contra elites
brancas. Quem aspira construir hegemonias sempre apela para essa estratégia
bipolar. O problema é que as urnas negaram ao PT os recursos para essa
hegemonia. O PT perdeu 18 deputados em um Congresso pulverizado entre 28
partidos. E vai governar apenas um dos grandes Estados brasileiros: Minas Gerais.
O vínculo com a oposição foi
prejudicado por uma agressividade de discurso que o Brasil desconhecia. Por
isso, a presidenta vai depender mais de sua aliança com o PMDB, que tampouco
lhe bastará para ter maioria em matéria de deputados. O PMDB perdeu 13 assentos
e é um agrupamento anfíbio, que em mais de um terço dos Estados apoiou Aécio,
do PSDB. A divisão dos 39 Ministérios do gabinete federal será uma tarefa para
mágicos.
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