sábado, 1 de novembro de 2014

A vida curta da mentira eleitoral



Prometa uma coisa e faça o contrário.


Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.
Bom esse Shakespeare. Sabia das coisas. Não votava nem no PT nem no PSDB mas era antenado na tal da alma humana.

Durante a campanha eleitoral, o PT, pai e protetor dos pobres, mostrou, sem nenhuma clemência, que Marina Silva, a seringueira fajuta, na verdade era instrumento dos banqueiros para instalar-se no poder e sugar os pobres. A Sra. Neca Setúbal, com esse sobrenome, era a prova viva da conspiração banqueiro-seringueira.

Os anúncios de João Bendengó Santana mostravam uma mesa onde crianças comiam a sua ração diária, que ia sendo apagada e reduzida à medida em que os banqueiros avançavam sobre a taxa de juros. Cada meio ponto a mais na taxa de juros, as proteínas e os carboidratos iam sendo apagados dos pratos das crianças pobres.

Um anúncio sórdido como esse chegou a ser classificado como muito talentoso por profissionais da publicidade. E por profissionais da militância.

Tudo isso para que 72 horas depois da apertadíssima reeleição de Dilma Rousseff, o Banco Central anunciasse uma elevação de 0,25% na taxa básica de juros. Por que os bancos centrais aumentam a taxa de juros? Para controlar a inflação. Mas a inflação, não repetiu exaustivamente a soberana nos debates eleitorais, já não estava sob controle?

A escolha do ministro da Fazenda que substituirá o zumbi Guido Mantega, é outro mistério. O primeiro nome que circulou foi o do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Quer dizer: quem votou em Dilma para evitar que Marina ou Aécio entregassem o país para os banqueiros só trocaria a bandeira do banco: do Itaú de dona Neca para o Bradesco de Trabuco.

Seria uma maneira de tranquilizar o mercado. Embora Lula, em uma de suas inúmeras bravatas, tenha dito que ele (e o PT, por supuesto) nunca governaram para o mercado, até os paralelepípedos da rua sabem que a famosa Carta ao Povo Brasileiro de 2001, que Antônio Palocci submeteu à aprovação de Joao Roberto Marinho (“o povo não é bobo/abaixo a rede Globo”), era mais do que um aceno ao mercado. Era um juramento de que o programa do PT seria arquivado e que a política econômica (neoliberal?) de FHC seria seguida religiosamente.


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