segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Que campanha feia


A campanha eleitoral do primeiro turno chega ao final deixando a sensação de que a máxima de Shakespeare, por meio da fala de Marco Antônio no túmulo de Júlio Cesar, vítima de traição dos senadores romanos, fustigará por bom tempo a consciência dos nossos atores políticos: “A maldade que os homens são capazes de fazer sobrevivem a eles, e as coisas boas são muitas vezes enterradas com seus ossos”. Os resíduos de sangue que respingam da contenda entre candidatos deixarão marcas indeléveis nos muros da política, devendo ganhar dimensão histórica. Estarão coladas à história dos personagens. Já vimos situações mais degradantes, como o bombástico depoimento de Miriam Cordeiro, em 1989, que dizia ter se separado de Lula, em 1974, após este tomar conhecimento de sua gravidez e ter sugerido um aborto. Fernando Collor acabou ganhando a campanha. Mas a disputa em curso não deixa a desejar em matéria de vulgaridade, mesmo sabendo que o “negócio” em que se transformou a política é um dos mais afeitos aos jogos desleais.

Não se pode dizer que a campanha se dedicou exclusivamente ao exercício de tiro ao alvo. Não. Viram-se ideias, programas, propostas e feitos de candidatos, tanto na esfera federal quanto no âmbito de Estados. E, também, perorações genéricas, cheias de boa intenção. Mas pouco ficou da substância dos programas eleitorais, particularmente em áreas de alta prioridade como saúde, segurança pública, educação e reformas fundamentais (política, fiscal-tributária, previdenciária, trabalhista etc). Menção rápida sobre esses assuntos não foi suficiente para a devida compreensão pela maioria do eleitorado, agravada pela modelagem de autoglorificação das mensagens televisivas. Pergunte-se ao cidadão comum se consegue distinguir diferenças de pontos de vista entre as três principais candidaturas sobre questões sociais, por exemplo. O que teria sobrado, então, da verborragia eleitoreira? Infelizmente, os aspectos negativos prevaleceram sobre os pontos positivos.

Leia mais o artigo de Gaudêncio Torquato

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