Ela não foi a única. Alguns momentos depois da divulgação da sentença, em meio a comemorações e lamentos de bolsonaristas, a dor das vítimas da pandemia começou a aparecer nas redes sociais em forma de gritos de revolta, de justiça e algum alívio.
Um vídeo onde uma mulher grita da janela: "pai, não foi mimimi! Nós conseguimos, pai. Não era uma gripezinha. Nós vencemos. É para você, pai", viralizou. A imagem é de 2022, gravada depois de Bolsonaro perder as eleições, mas muitos se sentiram representados pela homenagem da moça novamente. O vídeo foi seguido por centenas de declarações parecidas, feitas por pessoas que perderam familiares e amigos durante a pandemia e também se sentiam, de certa forma, vingadas.
"Minha avó morreu por causa da covid. Ela poderia perfeitamente estar conosco. Suas irmãs mais velhas estão todas vivas. É por você, vó", escreveu um jovem médico. Alguns contavam que perderam vários familiares ao mesmo tempo.
Lendo esses depoimentos, é difícil não se emocionar com tanta dor. E também não sentir raiva ao lembrar do descaso, do negacionismo, do atraso na compra de vacinas. Mas o que revolta mesmo é lembrar e rever momentos em que Jair Bolsonaro imitou pessoas com falta de ar (em março e maio de 2021, nos piores momentos da pandemia), respondeu para um repórter a uma pergunta sobre mortes na pandemia com a frase: "Não sou coveiro, tá". E disse: "Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar contando até quando? ", enquanto o Brasil enterrava milhares de pessoas por dia.
É estarrecedor que tenha existido um governante com tanta falta de empatia como Bolsonaro durante a pandemia. É repugnante. Tive amigos que morreram do vírus no Brasil na época, mas não consigo imaginar a dor e a revolta de quem perdeu parentes próximos e como resposta teve o governante do seu país gritando na sua cara "não sou coveiro!". Essas pessoas merecem alguma justiça.
O ex-presidente ainda não pagou pelos seus crimes durante o período. Segundo relatório apresentado pela CPI da Covid, realizada no fim de 2021, o ex-presidente cometeu nove crimes durante a pandemia. Entre eles, estão charlatanismo, crime de responsabilidade e incitação ao crime. Ele não chegou nem a ser julgado. Espero, sem muita esperança, que um dia ele pague por isso também.
Mas ele ser condenado a 27 anos de prisão já é uma lavada de alma para parentes e amigos das quase 700 mil pessoas que morreram de covid no seu governo, e também para todos nós que, de formas variadas, também passamos por esse trauma coletivo.
É tão horrível lembrar do período que às vezes dá vontade de simplesmente esquecer. Mas, como sempre se diz: "é preciso lembrar para que não se repita". E as vítimas da covid e da falta de empatia máxima não podem jamais serem esquecidas.
Bolsonaro foi condenado pelo STF por 4 votos contra 1. Mesmo assim, ainda é preciso que haja pressão para que ele cumpra a pena e pague pelos seus crimes. Depois disso, quem sabe um dia, poderemos torcer para que ele pague pelo que fez (e o que não fez) com as vítimas da pandemia e seus familiares. É pela democracia. Mas é por eles também.

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