quarta-feira, 27 de agosto de 2025

É necessário reaprender o pacote básico da civilidade: bom dia, por favor e obrigado

Tem que entender de IA. Muito. Também precisa saber sobre programação de computadores. Usando inteligência emocional, é lógico. A resiliência está em dia? O networking bombando? Seu mindset foi atualizado esta semana? Análise de dados é pré-requisito, sustentabilidade também. O inglês perfeito, claro, é obrigatório, mas, com o tarifaço, mandarim virou tendência. A economia digital tá dominada? E blockchain, tá por dentro? Como assim não é íntimo das criptomoedas?

A garotada está correndo igual galinha sem cabeça atrás das habilidades necessárias para a sobrevivência no século XXl. Pelo que dizem coaches, gurus e mentores, sem elas você está condenado ao limbo profissional: não encontrará ocupação, não se tornará empreendedor, não criará um unicórnio de bilhões.


Será que não falta nada nesse pacote de conhecimentos?

Depois de ouvir os elegantes áudios dos Bolsonaros e do Malafaia, rodar pelas redes sociais e dar um giro pelas ruas, posso afirmar que o que anda sumida é a educação. Não a que se aprende nos cursos da moda, mas a ensinada pelos pais, em casa, na hora do jantar. Estão faltando modos, como diziam nossas avós.

Ao invés de dominar o pacote Office, aquele do Excel, PowerPoint e Word, é necessário reaprender o pacote básico da civilidade: bom dia, por favor e obrigado.

Não entendo os fãs do ex-presidente suspirando pela sua grosseria como se fosse um sinal de autenticidade. Em algum momento vão se dar conta do erro que é chamar urubu de meu louro. Já os admiradores do pastor me são ainda mais incompreensíveis: como podem celebrar um religioso que está sempre xingando alguém? Pelo vocabulário que usa, me parece que ele seria mais feliz como dono de bordel ou chefe de torcida organizada. Eu o aconselharia a procurar um psiquiatra, talvez um exorcista.

A educação que se aprende em casa não é apenas a das regras básicas de etiqueta, como saber lidar com os talheres, dar lugar a idosos nos transportes públicos e não usar palavrões como vírgula. Na verdade, essa etiqueta é o de menos: o principal é a gentileza, o respeito e cordialidade. Exatamente as que se encontram em vias de extinção.

Cadê o Ibama e o Greenpeace nessas horas?

Basta acompanhar os bate-bocas no Congresso Nacional para perceber que, daquele jeito, com aquela gente, nada pode dar certo. O problema é que grosseria como estilo de vida está se espalhando como rastilho de pólvora. Chegou na fila do banco, na reunião de condomínio, na mesa do bar. Também se espalha a ideia de que a cortesia é frescura de uma elite ultrapassada. Como se houvesse algum tipo de relação entre dizer bom dia e o saldo bancário. Não vou citar os CEPs cariocas onde pode ser comprovado que essa relação não existe, tenho apreço pela paz, mas acho que o leitor sabe de onde estou falando.

Que me perdoem os coaches, mentores e gurus, mas nenhuma das habilidades do primeiro parágrafo — ou skills, como eles dizem— abre mais portas do que uma boa educação. Você pode andar com as marcas mais caras estampadas no peito, palavras da moda no discurso e vários diplomas em inglês debaixo do braço, mas é a maneira como você cumprimenta, fala e se comporta que vai dizer — de cara — quem você é.

Menos MBA e mais Socila, por favor.

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