A fome, no entanto, não era o único peso que eu carregava naquele dia. O esforço físico necessário para sobreviver à vida cotidiana tornou-se insuportavelmente exaustivo. Desde carregar água na mão até caminhar longas distâncias — seja para o meu trabalho como jornalista ou em buscas desesperadas nos mercados por algo que nos sustentasse — tudo isso acontece sob uma dura realidade que carece até mesmo das necessidades mais básicas para a sobrevivência.
Não consigo parar de pensar nos meus pais idosos, ambos sofrendo de doenças crônicas e precisando de nutrição regular para se manterem estáveis. A cada refeição perdida, temo pela saúde deles. Depois de um esforço exaustivo e de uma busca incansável, finalmente consegui apenas um quilo de farinha. Misturamos, assamos e acabamos com oito pães pequenos. Dividimos em quatro dias — um pão por dia para cada um, meu pai e minha mãe. Não comemos para nos sentirmos satisfeitos; comemos para aguentar.
Mas tudo o que estou passando empalidece em comparação com o som dos soluços que me chegaram através de um telefonema de uma parente. Ela chorava incontrolavelmente, contando-me que sua casa estava completamente vazia de comida e que seus cinco filhos choravam de fome. Engasgando com as palavras, ela disse: "As crianças estão morrendo de fome, o mercado está vazio e eu não sei como convencê-las a dormir". Permaneci em silêncio, incapaz de encontrar uma única palavra para confortá-la — ou para salvá-los.
Pessoas começaram a desabar nas ruas de pura exaustão. O choro das crianças, os gemidos dos idosos e os rostos vazios de fome tornaram-se parte do cotidiano. Ontem, uma criança chamada Yazan Al-Dreimly morreu de fome. Yazan não foi o primeiro e não será o último — cerca de 17.000 crianças em Gaza sofrem exatamente como ele, sob o domínio implacável do cerco, da opressão e da fome.
O Ministério da Saúde de Gaza anunciou hoje, sexta-feira, que os departamentos de emergência estão recebendo um número sem precedentes de cidadãos de todas as faixas etárias, sofrendo de exaustão física severa devido à fome. O Ministério observou que centenas de casos podem enfrentar morte iminente, pois seus corpos se deterioram além dos limites da resistência humana.
A caminho do mercado, vi uma mulher pálida desmaiar no meio da rua. Ela tentou dizer alguma coisa, mas a fome a dominou antes que suas palavras pudessem nos alcançar. Enquanto escrevo estas linhas, tive que parar várias vezes, tentando recuperar o fôlego e os pensamentos. Até mesmo escrever se tornou uma tarefa exaustiva — uma tarefa que tentamos com corpos enfraquecidos e mentes sobrecarregadas pela angústia.
Nos últimos dias, a fome deixou de ser apenas um sentimento interno ou uma dor silenciosa — tornou-se uma cena vívida e viva que se desenrola diante de nossos olhos em cada rua e esquina. Vejo crianças vasculhando os escombros em busca de restos de comida ou migalhas de pão, enquanto mães sentam-se nos degraus de suas casas destruídas, abraçando seus filhos com tristeza e desamparo, observando suas respirações desacelerarem diante dos olhos, incapazes de lhes oferecer qualquer coisa.
Conheço uma vizinha idosa que sempre foi conhecida por sua paciência e generosidade. Ontem, a vi chorando baixinho atrás da porta — ela não tinha encontrado nada para cozinhar para os netos por dois dias consecutivos.
Em nosso bairro, o cheiro de uma sopa simples feita com água e algumas lentilhas — quando disponíveis — preenche o ar como se fosse um banquete. Essa fome não distingue entre jornalista, criança, paciente ou idoso; todos se tornaram vítimas do cerco e da fome. Alguns se acostumaram ao silêncio, outros engoliram as lágrimas e muitos perderam a capacidade de falar de pura dor.
Não se trata mais apenas de escassez de alimentos — é um colapso da dignidade humana. As pessoas sentem que o mundo inteiro lhes virou as costas e que a morte por inanição se tornou uma ferramenta "legítima" de pressão política. A fome não é exceção — é uma política sistemática que nos cerca de todos os lados, sob a proteção internacional e um silêncio global nada menos que vergonhoso.
Nesta dura realidade, a fome deixou de ser um sentimento passageiro — tornou-se uma característica marcante da vida cotidiana em Gaza. Ande pelas ruas e você verá mães carregando seus filhos, em busca de um pão, e pais desempregados carregando silenciosamente o peso de sua impotência. Os mercados estão vazios, a ajuda é insuficiente e as refeições são medidas não pelo prato, mas pela mordida. Agora contamos os pães da mesma forma que os remédios — dividindo-os cuidadosamente entre os membros da família, não por luxo, mas pela sobrevivência.
As pessoas aqui não buscam luxos, mas o mínimo necessário para viver. Água limpa, combustível suficiente para alimentar um pequeno fogão, remédios para aliviar a dor de um paciente ou uma refeição quente para acalmar o coração de uma mãe. A cada dia que passa, as esperanças diminuem e a pressão psicológica se intensifica. Muitas pessoas que conhecemos caíram em depressão, e algumas perderam a força para seguir em frente sem dizer uma palavra, simplesmente porque não veem horizonte ou fim próximo para esse sofrimento.
Em meio a tudo isso, a solidariedade popular não desapareceu — o que consideramos nosso último refúgio. Vizinhos compartilham a comida que conseguem reunir, amigos trocam o pouco que têm e famílias dividem o arroz ou as lentilhas restantes. Essas são tentativas de sobreviver com dignidade em tempos de fome.
Que lei no mundo permite matar de fome mais de dois milhões de pessoas? Sob qual código legal ou moral esse crime é cometido, além do crime de genocídio?
E se apenas uma criança israelense passasse fome? Quantas organizações seriam mobilizadas? Quantas declarações seriam emitidas? Quantas portas se abririam para salvá-las?
Mas aqui em Gaza, somos deixados para morrer em silêncio.

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