Além de ostentar um estilo de vida atlético, o dono da Global Eggs é adepto do esporte de falar mal do Brasil. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele disse que o país estaria “ficando para trás”. Criticou o Judiciário, as leis trabalhistas e os programas de transferência de renda. “As pessoas estão viciadas no Bolsa Família”, declarou, culpando as políticas sociais por uma suposta dificuldade de contratar.
Faria não apresentou nenhum dado para sustentar as afirmações. Nem poderia. “As evidências mostram o contrário do que ele disse. Quando o Bolsa Família se expande, o emprego com carteira assinada cresce. E muita gente que não recebe o dinheiro passa a se beneficiar do aumento da renda de quem recebe”, afirma o economista Marcos Hecksher, do Ipea.
Em artigo recente, o pesquisador descarta a tese de um “efeito preguiça” sobre os beneficiários . “A hipótese de que o programa deixe as pessoas sem vontade de trabalhar não se sustenta. O que elas passam a rejeitar é o trabalho aviltante, o que é positivo”, diz. Segundo a plataforma de empregos Indeed, um operador de produção da Granja Faria, que pertence ao dono da Global Eggs, ganha em média R$ 1.670 ao mês.
Além de estimular o emprego formal, o Bolsa Família ajudou a erradicar a fome, reduzir a pobreza e manter crianças na escola. Por isso conquistou prêmios internacionais e ganhou o apoio do Banco Mundial, que ajudou a adaptá-lo para outros países.
As críticas do “rei do ovo” revelam menos sobre os pobres do que sobre a cabeça de certo tipo de empresário brasileiro. Na entrevista à Folha, Faria se disse contrário ao projeto de reforma do Imposto de Renda, que prevê isentar quem recebe até R$ 5 mil e cobrar uma taxação mínima dos mais ricos. Citado na lista da Forbes, o bilionário ressalvou que não falava em causa própria. Como bom patriota, ele transferiu sua residência fiscal para o Uruguai.
Bernardo Mello Franco

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