Essa abertura é quase igual à de uma coluna minha há seis anos: “O bem que Jair Bolsonaro nos faz”. Os protagonistas se parecem muito em sua loucura, narcisismo, arrogância, autoritarismo, sua total ausência de tato ou empatia.
Donald (como o Jair) obriga o isentão a se posicionar e sair do muro. Com seus arroubos e pitis, Donald estimula a imprensa a dar o maior duro, em tempo real, para esclarecer a população e desmascarar mentiras. Quem sabe, um dia, Donald personificará tanto ódio, preconceito e desumanidade que uma oposição inteligente surgirá nos EUA.
Antes da reeleição de Trump, cheguei a ouvir de amigos que ele era, sim, “o cara” para tornar a América grande de novo. Estável. Rica. E que só ele seria forte o suficiente para restaurar a paz no mundo.
Chegamos agora aos 100 dias mais surreais da história de um presidente americano. ‘The New York Times’ produziu volumoso retrospecto das ações caóticas de Trump. A palavra que resume é, segundo o jornal, vingança.
Vingança contra liberais, professores, juízes, gente pobre e estrangeira, contra qualquer um que se oponha a sua visão de potência imperialista com supremacia branca. Vingança contra quem quis sua prisão por coordenar a invasão ao Capitólio e tentar melar a eleição. Vingança contra quem desejou sua morte.
Duas imagens de Trump, na entrada do Salão Oval e no hall de entrada da Casa Branca, revelam a obsessão com si próprio.
Uma é a foto de sua ficha criminal, em 2023, numa prisão da Geórgia. Ele se entregou após ser acusado de associação criminosa e conspiração para mudar o resultado das eleições presidenciais. Foi solto após pagar fiança de R$ 1 milhão.
A outra imagem é uma pintura de Trump erguendo o punho direito com sangue respingado no rosto, “salvo por Deus para salvar a América”. Substituiu a foto de Obama.
Essas papagaiadas de Trump soam familiares? Os vídeos na UTI postados por Jair, como se fosse vítima crucificada do STF e da esquerda, são bizarros. Jair transformou sua internação num circo. Fez live, assediou moralmente uma oficial de Justiça. E expôs agora em vídeo a remoção da sonda nasogástrica. Nojento. E pensar que Jair sonha em repetir, aqui, a vingança de Trump.
O NYT listou os atos trumpistas. A demissão de promotores que o investigaram. O delírio de anexar a Groenlândia, o Canadá e o Canal do Panamá. A deportação arbitrária de imigrantes. A política externa de bullying. A gangorra econômica que pode causar recessão histórica.
A guerra das tarifas globais que semeou pânico entre investidores. A guerra comercial com a China, que ameaça até o Natal dos americanos – fábricas chinesas produzem quase 80% dos brinquedos nos EUA.
A guerra às universidades e à liberdade de expressão, com lista de termos proibidos. A guerra a organizações humanitárias. A guerra à diversidade, que seria sinônimo de incompetência.
É muita guerra para um emissário divino.
Mas Trump traz um benefício ao mundo: a desmoralização da ultradireita. O Canadá elegeu um liberal, antes azarão na disputa com um conservador. Quem sabe vem aí uma nova teoria dos dominós. Nem falo de direita. Mas de loucos. Há exatos 80 anos, 30 de abril de 1945, o corpo do ditador Mussolini foi jogado numa praça de Milão. O que aprendemos desde então?
Precisamos de exames psicotécnicos para acolher candidatos a presidente. Collor não teria passado. Nem Bolsonaro. Muito menos Trump.
Ruth de Aquino

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