quinta-feira, 18 de abril de 2024

O mito da riqueza do petróleo

Venezuela (119º), Nigéria (161º), Angola (150º), indonésia (112º), Iran (78º), Cazaquistão (67º), Iraque (128º), Brasil (89º) e México (77º) são países que extraem e exportam petróleo há anos, e suas populações continuam, na maioria, paupérrimas. Números entre parênteses indicam suas posições, entre 190 nações, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medida preferível ao PIB para indicar a qualidade de vida da população. Na “riquíssima”, esbanjadora, autocrática e misógina Arábia Saudita, o IDH é elevado, mas 33% vivem com menos de US$5,00/dia, enquanto na Costa Rica, carente de petróleo, fica na 62ª posição no IDH, é de 20% a proporção nessa condição.

Sem os antolhos que os lobbies petrolíferos colocam em nós, bastam os dados acima para ver que a riqueza decorrente da exploração do “ouro negro” é um mito; ele enriquece, e muito, uma pequena minoria, cuja dinheiro lhes permite definir políticas públicas. Dada essa força, usam a mentirosa promessa de melhorar a condição humana para forçar a continuidade da sua exploração, negando a consequente degradação!


Enquanto isso, continuam cada vez mais graves a destruição ambiental e humana decorrentes da queima de combustíveis fósseis e da busca por mais e mais PIB: recordes de calor quebrados sucessivamente; custos crescentes dos eventos extremos; metade hoje, mais amanhã, da população mundial com falta d’água; a insuspeita OCDE estima que, sem radical mudança de rumo, em duas décadas a temperatura média do planeta terá subido entre 3ºC e 6ºC; a poluição do ar compromete até o cérebro da maioria das crianças em todo o planeta, e as empresas de petróleo seguem ganhando subsídios da ordem de US$10 milhões/hora, globalmente, de acordo com o FMI.

Com todos esses e muitos outros sinais, como seguir explorando combustíveis fósseis e perseguindo aumentar o PIB? Argumentar que queimar mais petróleo vai tornar a vida melhor é fechar os olhos às evidências e à ciência e, ainda, acelerar a hecatombe.

Nas últimas seis ou sete décadas as novas tecnologias e as políticas públicas que buscam o crescimento do PIB aceleraram a degradação ambiental, multiplicaram a renda dos milionários e pouco ou nada melhoraram a vida de mais dos mais de 70% de humanos, que continuam “pobres”. Nesse quadro, e com essas tendências, não se pode esperar “progresso” – no sentido de vidas “melhores” para a maioria – senão alterando objetivos e políticas.

O Brasil, com energia mais limpa que a média e grandes reservas ambientais, deveria e poderia se engajar de maneira mais efetiva na construção do novo e cada vez mais necessário mundo. Mais que “enriquecer”, no sentido de aumentar o PIB, consumir mais e gerar mais lixo, há que promover outros objetivos: renda mínima para todos, maior igualdade, prevenir doenças, melhor alimentação, mais tempo livre e oportunidades de interação social, ambientes urbanos mais confortáveis, para citar uns poucos.

Outro, essencial, é aprofundar cada vez mais a democracia, com crescente participação popular na definição dos usos dos recursos disponíveis.

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