O Brasil carece de um projeto para o país. O arcabouço fiscal, a reforma tributária, e as políticas setoriais são de suma importância, mas não caracterizam um plano de desenvolvimento econômico, que case uma nova demanda e oferta. O crescimento de 2% a 3% ao ano não resolve nossos problemas.
Todo país que passou por crescimento econômico significativo experimentou casar nova oferta e demanda. Foi assim nos Estados Unidos com as políticas Keynesianas; na China, com ciência, urbanização e industrialização. E assim foi também no Brasil, com D. Pedro II na criação da Politécnica e da Escola de Minas de Ouro Preto e abertura da imigração; com Getúlio Vargas no pacto entre o capital e trabalho com a CLT; com Juscelino na substituição de importações; com Lula com crédito para as indústrias ociosas e programas sociais.
Um projeto de desenvolvimento do Brasil poderia, por exemplo, casar o assentamento de parcela da população em cidades agroindustriais com programas de aumento da produtividade na indústria e comércio.
Em relação às novas cidades agroindustriais, o Brasil conta com terras devolutas do Estado da ordem 23% de seu território. O contingente de pessoas vivendo em favelas é de cerca de 8% da nossa população. Estas cidades, em soluções distintas, mas complementares ao INCRA, poderiam ser desenvolvidas em PPP com o agribusiness e investimentos internacionais. Ativaria a construção pesada do país. A alocação, consentida, de parte dos 8% dos que vivem em favelas para o campo levaria ao aumento da produção agrícola e ao aumento dos salários urbanos devido à diminuição da oferta e manutenção da demanda por trabalho nas cidades. A recente experiência chinesa poderia em muito contribuir neste sentido.
Com relação ao aumento da produtividade, os trabalhos e webinars conduzidos por Paulo Paiva da Fundação Dom Cabral, ex-Ministro do Planejamento e do Trabalho, dentre vasto currículo, mostram que a produtividade no Brasil cresceu até 1980, a partir de quando permaneceu estável, indispensável seu aumento para o país. Segundo dados da FGV EESP, a produtividade do trabalhador americano é 4 vezes maior do que a do brasileiro, ou seja, o que toma 1 dia para se fazer nos Estados Unidos, toma 4 dias para fazer no Brasil. Se tivéssemos a produtividade americana, nosso PIB ao invés de US$ 1,6 bilhões estaria por volta de US$ 6,4 bilhões, como 3ª economia do planeta. Poderia ser criado um órgão em PPP e com a intelligentsia nacional de desenvolvimento da produtividade, um pouco diferente da FINEP, e do SEBRAE, focado em métodos e processos, nos moldes do que foi e tem sido a EMBRAPA para a agropecuária. Ressalte-se, também, a necessidade de forte investimento em indústrias de semicondutores, Data Science, e Inteligência Artificial, determinantes para os países neste século XXI. A fundação de uma Universidade de Information Technology seria propícia, trazendo os melhores talentos do exterior. As experiências da China, da Coreia do Sul e da Alemanha seriam significativas no aumento da produtividade.
Este é um exemplo de projeto possível. Afinal, isto nada mais é do que os conclames de José Bonifácio há 200 anos atrás, da “subdivisão de terras” e de uma “universidade”, ou intelligentsia, para o país. Velhos dilemas de nossa nação.
É difícil? Há capital para isto? Há tempo para tal? Quanto mais perto disso, melhor. O protótipo seria bem-vindo. Ou o Governo foca em um projeto de desenvolvimento econômico para o país ou poderá ter dificuldades eleitorais à frente.
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