sexta-feira, 17 de março de 2023

Tais militares, tais civis

Civis não podem entrar de surpresa num quartel militar e sair pintando postes sem autorização —os militares são muito ciosos de seus postes. Civis não podem invadir as repartições dos quartéis e sair carimbando despachos ou assinando promoções de segundo sargentos a primeiro sargentos —os militares são muito específicos a respeito de despachos a serem carimbados e de quais segundo sargentos merecem passar a primeiro. E, claro, nenhum civil pode se candidatar a general e, mesmo que seja absurdamente aceito pela comunidade militar, continuar se dizendo civil, com os gozos e benesses dos civis.


Já o contrário é possível. Os militares têm o direito anual de rolar seus pesados tanques e canhões pelas ruas dos civis, sem ligar para o estrago do asfalto sob as rodas e lagartas. Os militares podem trabalhar como funcionários em repartições civis, abrir gavetas, escarafunchar fichários, cantar as secretárias e ainda serem pagos para isso. E, pior, um general pode subir em palanques eleitorais e continuar general com os privilégios dos generais —como o de ser julgado por seus pares, não pela Justiça civil, e sair assobiando no azul.

É verdade que, num regime democrático, um militar só fará tudo isso com o estímulo de um civil, geralmente o presidente da República. Foi o que tivemos com Bolsonaro. Os militares estavam quietos nas casernas, limitando-se a rosnar em surdina contra as bandalheiras civis, quando viram em Bolsonaro a resposta às suas preces. Para muitos, ali estava o homem que botaria ordem no país. E pularam no seu colo.

Só não imaginavam que, sob Bolsonaro, teriam de acobertar desmatadores, cobrar propinas por vacinas, praticar charlatanismos, arapongar desafetos do presidente, tumultuar as eleições, abrigar golpistas, exterminar indígenas, contrabandear joias etc. —o rol é vasto.

E, que nem os civis, aprender a mentir.

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