Sabemos que as democracias são pactos, com o estabelecimento consensual de leis entre as partes. Fora do contrato social, conforme Rousseau, somente a barbárie. Mas a democracia é um princípio, e os países mudam, levando a transformações sociais.
Hoje, nas Ciências Sociais há a tendência de se utilizar as teorias existentes no que elas têm de mais significativo. As teorias no século XIX foram escritas como teorias gerais. Hoje, observamos o que há de adequado em cada teoria, como teorias de médio alcance.
Marx, no Volume III do Capital, esboçou o que seria a teoria da alienação. Nem todos podem ser empresários ou trabalhadores ao mesmo tempo. Portanto, existem limites estruturais. Mas, para a convivência mais harmoniosa, a classe dominante difunde a ideologia da igualdade das oportunidades. O problema, para a classe dominante, é quando ela começa a acreditar na ideologia que difunde, gerando a alienação do poder. Na Teoria Funcionalista, de Parsons e Merton, se alguém se esquece das variáveis que o levaram ao poder, achando que se validam por outros valores, entram em disfuncionalidade, com tendência à queda.
Um país, para existir, depende de um equilíbrio entre as partes, por consenso ou opressão. Todo modelo a longo prazo, entretanto, tende a ficar instável. As sociedades mudam, em suas condições econômicas, políticas e populacionais. A alienação das elites leva à disfuncionalidade em suas funções, tendo chegado ao poder devido a certas variáveis, mas atuando segundo variáveis distintas daquelas que os levaram ao poder.
Bolsonaro foi eleito com discurso contra as esquerdas, a “velha política”, e para implementar uma economia liberal. A economia liberal não foi implementada. À “velha política”, ele se aliou. Bolsonaro acha hoje que representa uma cruzada do conceito que ele tem de “liberdade”, se esquecendo daquilo que o levou ao poder. Hoje, Bolsonaro representa a derrocada da economia e a ameaça à democracia; Lula o recall do desenvolvimento e a estabilidade democrática. Bolsonaro é vítima da alienação do poder, limitado que é em suas percepções. Como Dom Quixote combatendo os Moinhos de Vento, na obra de Cervantes. Bolsonaro encontra-se em completa disfuncionalidade. Tende para a força, sem base social para isto. A força não vai se sobrepor ao consenso formado contra o que ele representa. Dificilmente será reeleito.
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