As punições atingirão empresas que comprarem café, carne, soja, madeira, óleo de palma ou cacau cultivados em regiões de desmatamento. Os três primeiros produtos, entre os seis incluídos na primeira versão da lei, estão no topo da lista de exportações brasileiras para a Europa. Será igualmente punido quem negociar com regiões ou países que desrespeitam os direitos de populações tradicionais.
Para Giovanna Kuele e Andreia Bonzo, do Instituto Igarapé, o propósito da União Europeia é impedir que empresas do continente colaborem com a destruição das florestas – mas outros ecossistemas, como o Cerrado, poderão entrar na nova lei. Elas discorrem sobre o assunto no minipodcast da semana.
O Brasil tem duas atitudes possíveis diante da iniciativa europeia. A primeira é o esperneio.
Nossos negociadores podem alegar que a lista inicial de produtos atinge especialmente as exportações de países em desenvolvimento – o que é verdade.
Poderão dizer também que a lei contraria alguns princípios da Organização Mundial do Comércio, o que é igualmente correto.
A resposta inteligente, no entanto, é olhar para o próprio quintal. Nos últimos anos, o Brasil vem batendo recordes de desmatamento. Como ter credibilidade em mesas de negociação com tal histórico?
Uma possível crise, assim, pode ser vista como oportunidade. Se nos comprometermos com metas de desmatamento zero – metas que, diga-se, são mais ambiciosas do que as previstas em nosso Código Florestal –, voltaremos a ser respeitados mundialmente e poderemos negociar em melhores condições. Somos vistos hoje, merecidamente, como párias ambientais. Está em nossas mãos reverter a má imagem.
Temos o maior pedaço de floresta tropical do mundo e um enorme potencial de produção de energia limpa. A única chance de o Brasil ganhar alguma relevância internacional é ter voz nas discussões sobre a economia de baixo carbono. Que será, inevitavelmente, a economia deste milênio.
Nós, que já fomos considerados o país do futuro, hoje somos vistos como uma nação em marcha à ré. Se não cuidarmos obsessivamente de nossa maior riqueza – o meio ambiente –, um novo e triste rótulo nos aguarda: o de país do passado. Ou, pior, o de país sem futuro.
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