Bolsonaro disputou a última eleição com o figurino de um candidato que desafiava os interesses dos ricos e poderosos. O presidente tenta renovar a imagem sempre que se vê isolado por esses grupos: andou dizendo que os bancos só defendem a democracia porque perderam dinheiro com a criação do Pix e alega que o establishment trabalha contra ele porque seu governo não cedeu a velhos conchavos.
A ideia é a mesma desde a campanha passada: assumir o rótulo de um movimento antielitista e reivindicar uma suposta legitimidade popular a favor de seus interesses políticos. Essa linha vale tanto para o discurso eleitoral clássico como para suas incansáveis propostas de ruptura ("eu faço o que o povo quiser").
Apesar de aproveitar o personagem, Bolsonaro está muito bem servido por uma elite que parece disposta a ficar a seu lado para o que der e vier. Não são poucos os endinheirados que apostam numa vitória do capitão, enquanto outros querem que ele permaneça no poder mesmo que seja derrotado nas urnas.
Há meses, um grupo de empresários lidera uma torcida organizada do golpismo pelo WhatsApp. Segundo uma reportagem do site Metrópoles, estão lá o notório Luciano Hang e os donos das marcas Multiplan e Coco Bambu, entre outros. Um deles disse abertamente preferir um "golpe do que a volta do PT".
Com empresários amigos, políticos poderosos alimentados com verba pública e aliados em postos-chave, Bolsonaro realizou o sonho da elite própria. Resta saber se essa turma está disposta a pagar a conta dos delírios autoritários do capitão.
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