segunda-feira, 18 de julho de 2022

Tripla insensatez

Há livros dedicados a analisar a estupidez política de líderes do passado. Não conheço livro que analise a insensatez múltipla de dirigentes e opositores, promovendo tragédia histórica. O Brasil de 2022 será um tema de análise da tripla insensatez na política.

De um lado, o Presidente com a estupidez de anunciar com meses de antecedência que não respeitará o resultado das urnas. Insensato aos fatos, porque para ter sucesso, o golpe exige surpresa; e porque, se tiver êxito, é muito provavelmente que seja descartado, uma vez que não liderará as Forças Armadas, depois que rasgar 56 milhões de votos e a Constituição que lhe dá legitimidade para compensar sua total falta de liderança. Além disto, basta ler história para saber que nenhuma ruptura do pacto constitucional provoca coesão e rumo duradouro para o país.


Ao lado, a insanidade dos comandantes militares, que certamente conhecem mais história do que o capitão que expulsaram e os eleitores fizeram presidente. Sabem o risco que o país sofrerá se a Constituição for rasgada, se um presidente despreparado for imposto, ou se este for destituído, e no lugar for imposto um comandante militar sem votos. Mesmo se o golpe for vitorioso e ficar 21 anos, graças à tortura e ditadura, não será benéfico para o país nem para as Forças Armadas.

Os generais comandantes parecem não ter aprendido a importância da surpresa na execução de uma estratégia. Já manifestam que não respeitarão o resultado das eleições se as urnas não estiverem de acordo com o que eles querem. Desmoralizam a democracia ao tentar tutelar o processo eleitoral, e com isto desmoralizam as Forças Armadas por se transformarem em milícias politiqueiras. Aceitaram estas urnas em dez eleições anteriores, agora, insensatamente, avisam que usarão este argumento para recusar o resultado das eleições se não for o que eles desejam. É uma estupidez, mas estão praticando sem respeito aos juramentos, à história nem aos julgamentos que receberão no futuro.

Demonstram estupidez ao deixarem, óbvio a qualquer inteligência, como será o golpe, com roteiro que consiste em: compactuar com um fundo secreto para comprar votos com dinheiro público, se isto não der o resultado que esperam, usam o estado de emergência já aprovado pelos parlamentares, denunciam que o resultado não é confiável, desconectam a energia durante a noite da apuração, milícias impedem a circulação de transporte, especialmente no Nordeste e outras áreas reconhecidamente a favor de outro candidato, usam as denúncias feitas contra o candidato Lula por personalidades progressistas, convocam o Congresso, dificultam a presença de parlamentares opositores, deslegitimam as votações e convocam novas para daqui a dois anos, prorrogam os mandatos de todos os atuais dirigentes, muitos dos quais perderam a eleição; se não for suficiente a compra dos parlamentares por dentro, cercam o Congresso e o STF, e as casas onde moram os líderes da oposição “para protege-los”: medida aceita sobretudo se antes ocorrerem atos de violência, como o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu.

Sabendo disto, as oposições se comportam de forma igualmente insensata: sabem o que pode acontecer, mas não sabem o que fazer para barrar o golpe. Não se unem, não fazem um manifesto conjunto em defesa da democracia, se acusam mutuamente, detonam pontes que seriam necessárias no segundo turno, não elaboram um programa comum tal como: fim da reeleição, combate à inflação, medidas para gerar emprego, defesa da Amazônia, recuperação do prestígio internacional, enfrentar as sequelas do covid, fim do sigilo de processos por corrupção, regras que vacinem o governo contra corruptos.

A história mostra insensatez de muitos governantes. O Brasil mostra insensatez tripla: das Forças Armadas, do governante e dos líderes da oposição.

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