Não são falas alegres ou uma simples cantoria. Em geral, os mascarados emitem reclamações ou, pior, vociferam agressões contra algum incauto destinatário. É assim nas ruas, dentro dos ônibus, nos corredores dos supermercados, nos balcões de serviço… Uma multidão de valentões que lembram aqueles cães que latem ameaçadoramente atrás da cerca, mas fogem com o rabo entre as pernas assim que a vítima se aproxima.
Entendo que paira sobre nossas cabeças uma nuvem de mau humor, diante das perspectivas atuais. “Está tudo tão caro!”, queixa-se uma voz de dentro da máscara, diante das gôndolas do mercado. “Que gente mole!”, reclama outra, na entrada do ônibus demorado, em fila para girar a catraca. “Nossa, toda hora é isso!”, protesta uma terceira, abordada por um pedinte.
Agressões sem troco (felizmente), porque os alvos, em geral, desconhecem o que se pensa deles. Será que tal animosidade alivia o desespero de quem não vê saída a curto prazo? “O tempo está passando tão depressa! Já é quase maio!”, me diz uma amiga, lamentando que nos encontremos pouco.
Penso com meus botões que ainda bem que os meses avançam, porque não vejo a hora de outubro chegar e, com ele, as esperadas eleições. Algo precisa mudar, há de haver algo novo sob o sol, precisamos respirar outros ares, recuperar a esperança.
Não sei até quando continuarei usando máscara. Não a descarto por enquanto, nem mesmo andando numa rua deserta. Até falo por trás dela, também, quando sem querer deixo cair algo das mãos ou no meio do caminho vejo que esqueci em casa algo importante. Queixas que faria mesmo sem mordaça, porque mora uma perfeccionista aqui dentro que não me dá sossego.
Tenhamos paciência, sempre que possível. Dias melhores virão, mesmo que os ranzinzas insistam em reclamar de tudo e todos, com ou sem razão, com ou sem máscaras. Em outubro será Primavera.
Madô Martins
Nenhum comentário:
Postar um comentário