Após seu telefonema mais recente com Vladimir Putin, a formulação do presidente francês, Emnanuel Macron, foi quase literalmente a mesma que a do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na sexta-feira (04/03): "Vai ficar ainda pior."
Os militares partem do princípio que em breve o exército russo intensificará os bombardeios e os disparos contra a população civil. Pessimistas temem que Putin vá reduzir Kiev a destroços e cinzas, seguindo o modelo da destruição total de Grozny, em 1999, quando, sob comando do senhor de guerra, as forças armadas russas transformaram da capital tchetchena num deserto de ruínas.
Com esse pesadelo perante os olhos, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem apelado repetidamente por uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. E a Otan repetidamente tem que responder: "Não podemos!" Isso significaria a confrontação militar direta com a Rússia, e eclodiria a Terceira Guerra Mundial.
Putin já nos lembrou de suas armas nucleares e insinuou que talvez chegue às últimas consequências para tornar realidade seu desvario de um reino pan-russo, com a anexação da Ucrânia. No entanto, a aparente irracionalidade do chefe do Kremlin, sua loucura real ou fingida, não passa de mais um recurso para nos deixar inseguros.
Alguns observadores acham até que a aliança ocidental deveria se comportar com cautela ainda maior, a fim de evitar o apocalipse nuclear. Putin poderia interpretar até mesmo o fornecimento de armas como uma ultrapassagem da "linha vermelha", dizem.
Em contrapartida, os Estados Unidos creem ser preciso deter o lider russo agora, para que ele não abra a "caixa de Pandora", com ainda mais guerra e instabilidade, como disse o secretário de Estado Antony Blinken. Do mesmo modo que muitos europeus, ele parte do princípio que Putin atacará ainda outros países europeus: Geórgia, Modávia e os Estados bálticos.
As nações ocidentais reagiram com as sanções econômicas mais duras e mais imediatas de sua história. Mas se quisermos deter a campanha de destruição de Putin, vai ser preciso apertar mais ainda os parafusos. Para o início da segunda semana de fevereiro, a União Europeia anunciou a suspensão de ainda mais bancos, do tráfego marítimo e de diversas importações.
Depois disso, como último recurso, só restará sustar as importações de petróleo, gás e carvão mineral russos, No entanto, a medida abalará tanto as economias nacionais quanto a paz social de nossos países. Mas em caso de dúvida, teremos que encarar isso, já que todas as outras opções são piores.
Pois, continuando a comprar petróleo e gás russos, estamos financiando a guerra de Putin. Mesmo que a primeira rodada de sanções já tenha paralisado o Banco Central da Rússia, Moscou embolsa centenas de milhões de dólares por dia em seus negócios conosco.
Só se fecharmos essa torneira, deixando Putin sem nenhuma fonte de divisas e sem acesso a suas reservas, talvez ele se sente à mesa de negociações. Entretanto nem mesmo tais sanções extremas servirão à Ucrânia no curto prazo.
Em todos os outros aspectos, a UE, com frequência tão conflituosa, supera todas as expectativas: sem burocracia, ela oferece proteção a todos os refugiados, e a gigantesca solidariedade humana é emocionante e afetuosa. Os europeus fornecem dinheiro, armas e prestam ajuda humanitária ao povo do país vizinho sob ataque.
Nos limites do possível, as cidadãs e cidadãos da Europa fazem tudo, também por perceber que essa guerra é um ataque contra todos nós, nossa forma de vida liberal, democrática. E porque a inimaginável valentia dos ucranianos sacode quem acredita que a partir do sofá da sala possa dar a sua contribuição pela segurança do nosso futuro.
Contudo, se a intenção de Putin for, de fato, arrasar à base de bombas a capital ucraniana, com suas cúpulas douradas, seu palácio do governo, o heroico presidente Volodimir Zelenski e seus mais de 3 milhões de cidadãos, no fim de contas só vamos mesmo poder assistir.
E essa sensação de nossa impotência, de sermos observadores de mãos atadas da campanha assassina de Putin... vai ser terrivelmente amargo.
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