sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Novo velho ano novo

“Novo ano começou, mas tudo continua tristemente igual”. Ouvi isso ontem dito por uma senhora na rua quando voltava para casa, e pensei como para mim foi e é significativo o rito de passagem de ano, que afinal, nada mais é que a ritualização do decorrer dos dias. Um respiro, uma subida a superfície para tomar fôlego e voltar a nadar o tempo presente.

E se, “tudo continua tristemente igual”, também dialética e contraditoriamente já se mostra também tudo diferente. Porque esse respiro necessário do cotidiano caótico e sufocante ajuda a rever planos, traçar novas rotas, reavaliar projetos, refazer caminhos. Possibilita reorganizar prioridades, buscar trazer à tona sonhos submersos e escondidos pelos dias acinzentados pelo capitalismo.

De alguma forma, esse hiato nos dias, ajuda a continuar viva em nós a busca por outra forma de sociabilidade, a não sucumbirmos a dor do mundo capitalista que nos adoece e nos mata cada dia de maneira mais cruel e brutal, banalizando nossas vidas.


Pode servir para lembrar, mesmo quando já se rouba da memória, o caráter sempre presente da possibilidade humana de fazer sua própria história enquanto coletividade, de se recriar através da transformação da natureza para melhoria de suas condições de subsistência. Assim como, pode marcar e evidenciar a verdade quase esquecida de que não somos o capital e por isso podemos e vamos sobreviver para além dele.

Conduz para a luz a recordação que o tempo histórico não é estático, passa, ainda que lentamente, passa. E que, se estamos cada vez mais em tempos envoltos em barbárie, também dialeticamente, estamos vizinhos da potência de uma efetivação da revolução da classe trabalhadora.

Então, sim, os dias continuam tristemente iguais, mas a passagem do ano, nos deu a concretização de uma pausa, respiro, tomamos fôlego para os próximos gritos de longe tão necessários e indispensáveis, para continuarmos a nadar rumo a uma sociedade justa, efetivamente humana e emancipada.

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