Os sinais estão aí, por todo o lado,
insinuam que o mundo apodrece,
que está todo despedaçado,
que, sem redenção, sobreaquece.
Os rios e os mares infectados,
os vírus desvairados, assassinos,
as terras desertadas, devastadas,
dilúvios afogando peregrinos,
o mundo em completo desconcerto
a vida cada vez mais degradada,
a luta pela vida num aperto,
a esperança de viver desbaratada,
os hospitais cheios e exauridos,
os cemitérios todos esgotados,
os gritos das crianças assustadas,
apagando-se em sítios já esquecidos!
A lama, o sangue, o pus, a merda toda
medalhas que sobraram da vida que houve,
no meio de tudo isto, a estuporada foda,
resto de vida, que durar não soube!
Da música sublime que se criara,
sobra, para acompanhar a derrocada,
marcha fúnebre para a ardida seara,
montanha de ruínas assombrada.
Radiações que matam devagar
e o frio que aos poucos nos devora,
tudo eficaz arte de matar,
dando-nos um final que não demora.
A história do homem nesta Terra,
feita de conflitos e descobertas,
deu pra inventar ciência e guerra
e, ao terror, ofertar portas abertas.
O nosso mundo vai chegar ao fim
e, desta nossa construída glória,
finar-se-á, a um toque de clarim,
história de que não ficará memória.
Eugénio Lisboa
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