quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Quem manda aqui sou eu

A querida colega Hildegard Angel do 247 tem razão. Não se viu ontem nas manifestações um soldado marchando, nem um evangélico cantando hino religioso. É uma constatação importante que vem a se juntar à minha reflexão. Bolsonaro está isolado e toda a sua pauta é individualista e sem propósito. O que ele defende? Nada coletivo.

Aliás, como ele mesmo prometeu, só defende a destruição. O discurso é todo feito no EU, jamais no NÓS. Não há projeto para o país, nem mesmo o econômico que era o que juntava alhos com bugalhos, ou seja, o mito com o Paulo Guedes e o Mercado. Acabou tudo. Pensando bem, de coletivo o projeto neoliberal não tem nada.

A população que ainda segue o mito (calculam em 20%) também pensa assim. Eles são aquele grupo que espera a atitude do salvador, do indivíduo, do deus, do mito, do guerreiro até do príncipe que vem salvar a população do monstro malvado. É o salvador de um lado e o demônio, mais justo ao estilo, do outro. O bem contra o mal. Deus e o diabo. O certo e o errado, o branco e o preto. Pátria e família. Tudo absoluto, nada relativo. Ele particulariza tudo para poder dar uma solução também particular. Não passa pela cabeça dessa gente nenhuma solução coletiva.

Eles acabaram com os sindicatos, com as ONGs, com as instituições culturais com qualquer projeto que pense na solução para muitos. Não se fala em fome, em pobreza, em trabalho. Nada que envolva mais de meia dúzia de pessoas. Não se fala em cultura, em saúde, em educação, nada que encha uma sala de aula, um museu ou um hospital. Nada. A pandemia não existe mais, a cultura também não, e a escola precisa ser reduzida a um colégio militar que ensina a disciplina, individualmente, cada um por si, obedecendo ao superior e não contestando suas ordens.



O que se viu ontem foi isso e as pesquisas mostram hoje no Globo o tipo de população que estava na Paulista. Classe média, ensino médio, de cor branca e maioria de homens. Nada mais médio. Nada mais individualista e sem ambições coletivas. A característica da classe média mais explorada pelo governo Bolsonaro é justamente a do cada um por si. Nada de se juntar ao vizinho. Melhor passar por cima dele querendo, por mérito próprio, chegar acima, o que quase nunca vai acontecer, do que se juntar a ele e juntos lutarem por algo melhor. Nada disso. Não há uma palavra de ordem coletiva e construtiva de alguma coisa. É só destruição e catarse a favor de um capitão marrento que grita exatamente o que o sujeito na rua quer ouvir. Não há nem confraternização entre os que ouvem. Um abraço, um sorriso. Nada. Só entre bandidos condenados. Selfies com o Queiróz têm para eles mais importância do que um programa de governo que vise melhorar a vida de todos. Eu sou amigo do bandido, do espertalhão, do transgressor. Eu prefiro avançar o sinal vermelho, não respeitar o radar de velocidade e não obedecer ao Supremo do que seguir as leis da sociedade, as decisões da justiça ou até mesmo os caminhos do Congresso.

O país deles é o país da não- política, da meritocracia, da segregação da malandragem e da esperteza. Nada que a democracia use em seus princípios. Bolsonaro não é um político incompetente, ele é um fascista perverso e é preciso que a imprensa oficial diga isso. A Globo, a CNN e os jornais ficam criticando o presidente como se ele fosse um político conservador que comete muitos erros, mas pode se redimir. Cada vez menos, é verdade, mas eles são incapazes de enquadrar o mito onde ele sempre esteve desde o começo e nós sabíamos. Ele sempre foi um militar medíocre que deu um jeito esperto e aliado a cúmplices inescrupulosos e outros inocentes acabou seu elegendo. Mas ele não quer nada com a política. Ele não sabe e não gosta. É preciso que ele seja chamado de tirano e fascista como sempre foi e tiranos fascistas não gostam de soluções coletivas. Gostam de aparecer cavalgando, andando de moto, discursando impropérios e debochando de tudo que é progresso social. Repete o “quem manda aqui sou eu” ignorando as regras do país que governa. Quem o aplaude também pensa assim. Nada é perfeito. Eles existem e Freud e Marx se juntam para explicar. Nada a esperar de Bolsonaro e quanto mais cedo a sociedade se convença disso, mais cedo voltamos a ser uma democracia.

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