Na política, Centrão dá as cartas. Presidente sem partido rejeita todos eles e todos o rejeitam por tratar-se de uma companhia nefasta. Crise institucional que se arrasta pondo em choque o Executivo e o Judiciário. Fantasma do golpe que ora assombra, ora se retrai para de novo assombrar. Eleições polarizadas à vista, o que só contribui para o aumento das tensões.
Diante de um quadro desses, os que de fato mandam e sempre mandaram no país decidiram intervir – e de novo está servida a farsa de um presidente cronicamente pecador que se diz arrependido dos seus pecados. A versão Jair paz e amor, por falsa, não convence ninguém. É um clássico encenado sempre que o presidente acidental se vê em apuros, acuado, e com medo de cair.
“O grupo dos cinco não brinca em serviço”, observou um deputado federal paulista que conhece o caminho das pedras. “Não rasga dinheiro, acumula, e não põe seus negócios em perigo para dar suporte a um presidente doido”. O grupo dos cinco tem por endereço a Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, sede da maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
O discurso incendiário de Bolsonaro no 7 de setembro na Avenida Paulista derrubou a Bolsa de Valores no dia seguinte e pôs em circulação a ideia de que o impeachment seria a única solução. Cauteloso, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, consultou suas fontes do mercado. O PSDB e o PMDB apressaram-se em declarar que topavam discutir o impeachment.
Então se fez ouvir a voz dos donos do poder, e ela foi peremptória: impeachment, não, jamais. Bolsonaro que se dane, mas o impeachment seria um tormento com duração de 6 a 7 meses, causando sérios danos à economia. Lira, boneco de ventríloquo do mercado, então ficou contra. PSDB e PMDB recuaram para não perder seus financiadores. Mas isso só não bastaria.
Faz mais de ano que o ex-presidente Michel Temer abriu um canal de comunicação com Bolsonaro e, a pretexto de “dar palpites”, aconselha-o em momentos delicados. Na maioria das vezes não é ouvido. Mas dessa vez, Bolsonaro fora previamente avisado de que o mercado falaria pela boca de Temer. E ouviu-o com atenção. Assinou a nota que ele trouxe pronta e divulgou-a de imediato.
Bom menino, esse rapaz que se elegeu presidente prometendo destruir o “sistema”, mas que a ele se submete para tentar sobreviver. Bolsonaro está em avançado estágio de decomposição. Com popularidade em queda, sem dinheiro para prorrogar o pagamento do auxílio emergencial e anabolizar o programa Bolsa Família, vê-se na direção de uma derrota fragorosa ano que vem.
O que lhe resta senão conformar-se com ela ou tentar evitá-la mediante um ato de força, embora lhe falte força para tal? A reapresentação por curta temporada do Jair paz e amor pode funcionar como uma trégua em meio a uma batalha. Bolsonaro vai lamber as feridas, contar o número de feridos e mortos que perdeu e dar tratos à bola sobre o que fazer doravante.
O que lhe resta senão conformar-se com ela ou tentar evitá-la mediante um ato de força, embora lhe falte força para tal? A reapresentação por curta temporada do Jair paz e amor pode funcionar como uma trégua em meio a uma batalha. Bolsonaro vai lamber as feridas, contar o número de feridos e mortos que perdeu e dar tratos à bola sobre o que fazer doravante.
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