O emissário do presidente Joe Biden trouxe na sua bagagem três grandes temas: a inegociável proteção do meio ambiente; a possibilidade de afastar a chinesa Huawei do leilão do sistema 5G do projeto de internet brasileiro e a defesa da democracia e das liberdades no Brasil, incluindo a realização de eleições presidenciais livres com alternância no poder.
A contrapartida oferecida foi a possibilidade de o Brasil integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Isso aconteceu antes dos blindados passearem pela Esplanada dos Ministérios sem nenhuma razão aparente, além de tentar constranger os deputados quando se preparavam para derrubar a adoção do voto em cédula no Brasil.
O encontro do norte-americano com o brasileiro, subitamente, se tornou dramático e inesperado. Bolsonaro achou conveniente afirmar que a eleição de Biden foi marcada por fraudes de todos os tipos. Ele disse que, no seu entender, Trump venceu o pleito.
As possibilidades de golpe militar na democracia brasileira são escassas. Sem apoio de Washigton transforma-se em missão quase impossível. O Brasil, como certa vez disse Ulysses Guimarães, não é uma Uganda qualquer. É uma economia forte, que acolhe investimentos pesados de diversos países inclusive norte-americanos.
Militares brasileiros e norte-americanos se encontram e confraternizam lá e cá em cursos de vários tipos. Os adidos militares nos Estados Unidos têm contato direto com fornecedores de equipamentos para Marinha, Exército e Aeronáutica. Romper estes laços significa enorme prejuízo para o governo brasileiro e, em especial, para as Forças Armadas.
A informação passada por Bolsonaro aos norte-americanos significa que ele vai tentar fazer aqui o que Trump fez lá.
Bolsonaro está seguindo roteiro consagrado na formação de líderes populistas que se transformaram em ditadores. Mussolini, trajando camisa preta, apareceu perante o Rei Vitor Emanuel III, consciente do espetáculo, avançou sobre o piso de mármore do Palácio Quirinal, cumprimentou o monarca e disse: ‘Senhor, perdoe-me. Estou vindo do campo de batalha’.
Depois fez misérias na Itália, firmou uma aliança com a Alemanha e foi à guerra. Terminou seus dias pendurado de cabeça para baixo num posto de gasolina em Milão, ao lado de sua amante Clara Petacci, também de cabeça para baixo, mas com a saia cuidadosamente amarrada na altura do tornozelo.
Seu caminho foi o conhecido: milicias constrangendo, batendo, matando, censurando e criando narrativa própria.
Hitler seguiu roteiro semelhante na Alemanha. Depois de passar nove meses preso – quando escreveu "Minha Luta" – por ter tentado derrubar o governo em 1923 conseguiu se recuperar. Após dez anos seu pequeno partido nacionalista conseguiu boa votação. Diante da falta de acordo entre as forças dominantes, o presidente Hindenburg o convidou para assumir a chefia do governo.
Os experientes políticos achavam, na época, que poderiam controlar o novo personagem. Ele, um perigoso populista, transformou-se em ditador sanguinário que matou milhões de judeus e lançou a Europa numa convulsão de 50 milhões de mortos.
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