Quando convidados a avaliar o trabalho de Bolsonaro em si mesmo, os entrevistados se mostram ainda mais críticos. Na pesquisa XP/Ipespe, 60% disseram desaprovar o modo como Bolsonaro administra o País, índice que vem subindo desde dezembro do ano passado, quando esteve em 45%. Já na pesquisa Exame/Ideia, a desaprovação do trabalho do presidente é de 50%, também em alta consistente há meses.
É óbvio que essa impopularidade pode diminuir com o efeito de medidas demagógicas e com uma eventual recuperação da economia nos próximos meses, mas está claro que uma parte significativa da população está profundamente insatisfeita com o presidente.
As razões são óbvias. Além do quase meio milhão de mortos em razão da pandemia, o que por si só deveria bastar para arruinar a imagem de qualquer presidente, há uma aflitiva lentidão na vacinação, fruto da incompetência criminosa do governo, como vem mostrando com clareza a CPI da Pandemia. Apenas 11% dos brasileiros receberam as duas doses de vacina, enquanto nos EUA esse índice é de 42% e no Chile, de 45%.
As imagens de vários países do mundo em que a população começa a experimentar algo próximo da normalidade ampliam a sensação de desalento no Brasil, onde se registram mais de 1,5 mil mortos por dia, a ocupação hospitalar não é inferior a 80% e as impopulares restrições continuam em vigor para evitar novo colapso do sistema de saúde.
Nesse contexto, a vacina, desprezada explicitamente por Bolsonaro, é uma demanda da maioria absoluta dos brasileiros. A pesquisa XP/Ipespe apurou que apenas 5% dos entrevistados dizem que “com certeza” não vão se vacinar, enquanto 88% disseram que ou já se vacinaram ou pretendem se vacinar.
Esse é seguramente um dos aspectos que minam a popularidade de Bolsonaro, mas decerto não é o único. Outro tema sensível abordado na pesquisa XP/Ipespe foi a corrupção, que Bolsonaro se jacta de ter liquidado em seu governo. O levantamento mostra que, em novembro de 2018, após a vitória eleitoral de Bolsonaro, 56% dos entrevistados, confiando nas ruidosas promessas do presidente eleito, esperavam que a corrupção fosse diminuir nos seis meses seguintes, enquanto apenas 17% imaginavam que a corrupção fosse aumentar. Já na mais recente pesquisa, 46% disseram crer que a corrupção vai aumentar, enquanto apenas 16% entendem que vai diminuir.
Isso significa que a percepção de corrupção no País cresceu junto com a impopularidade do presidente, e não parece ser mera coincidência. As inúmeras suspeitas envolvendo a família do presidente, de rachadinhas ao uso da máquina pública para fins privados, contradizem frontalmente o discurso saneador de Bolsonaro. Hoje, quem está com Bolsonaro corre o risco de ser visto como corrupto.
Tal percepção é implacável, mesmo para os que têm boa imagem nacional. A pesquisa XP/Ipespe mostra que as Forças Armadas – de longe a instituição que inspira maior respeito entre os brasileiros – vêm perdendo a confiança dos cidadãos desde que se permitiram envolver com um governo tão nocivo para o País. O levantamento mostra que, em dezembro de 2018, pouco antes da posse de Bolsonaro, 70% dos brasileiros diziam confiar nas Forças Armadas; hoje, essa confiança caiu para 58%.
Se a má companhia bolsonarista prejudica uma instituição tão respeitada como as Forças Armadas, o estrago para os já desmoralizados partidos e políticos que dão sustentação ao pior governo da história é muito maior. E o preço desse apoio será cada vez mais salgado: a pesquisa Exame/Ideia mostra que 52% dos entrevistados concordam com a realização de manifestações contra o governo. O mau humor com Bolsonaro veio para ficar.
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