O Brasil está chegando ao limite da tolerância. Como não temos uma tradição histórica de enfrentamento político, há uma tendência de suportar o insuportável. Sempre é encontrada alguma justificativa para explicar uma situação inexplicável. Diferentemente de outras crises, a de 2020-2021 (2022 também?) tem um componente adicional – e que componente! -, a pandemia do coronavírus. É o teste definitivo da paciência do cidadão, algo para entrar na galeria da tipologia da definição do que é ser brasileiro.
Em alguns momentos da história do Brasil, a passividade foi atribuída às benesses econômicas. O bolso com algum dinheiro justificava o desinteresse pela política. Em outras, era imputada à nossa formação histórica e a “culpa” era atribuída à herança ibérica. Também, na busca incessante de explicação, o ufanismo sistematizado pelo Conde de Afonso Celso identificava na fusão das raças a nossa peculiar formação.
Temos uma enorme dificuldade de entender (e ter) o sentimento de coletividade. Pode ser que o temor de ruptura e a busca de conciliação em momento de crise política tenham levado à constituição de uma sociedade civil peculiar. Como tudo pode ser acordado, não há necessidade da afirmação de eventuais antagonismos, que poderiam conduzir a uma formação social que tivesse em diferentes visões de mundo pontos de explicação (e não de justificação para a inércia política) e de ações na construção da cidadania.
Em diversos momentos da nossa história isto foi relevado a plano secundário. Foi possível – a um alto custo para a consolidação da democracia – buscar uma saída indolor, que preservasse na nova situação boa parte da antiga ordem. E a vida seguia. Agora vivemos uma situação agônica. Não é possível encontrar uma alternativa conciliatória. Jair Bolsonaro levou ao limite do esgarçamento institucional e, principalmente, da paciência nacional. Meio milhão de mortos deve fazer o Brasil acordar.
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