O presidente Jair Bolsonaro é a consequência da estagnação que já dura 40 anos, com tendência de regressão desde a grande crise global de 2008, assim como Lula fora em 2002, e poderá voltar a sê-lo em 2022, devido à incapacidade da coalizão reducionista que nos governa de reformar a governança do Estado e de pôr pilha no dinamismo empresarial.
Dois equívocos estão claros, embora pouco compreendidos. Primeiro é o desconforto do governante com a faina administrativa, razão de estar sempre desviando a atenção sobre suas responsabilidades e apontando o dedo para inimigos. Tal estilo foi usado pelas lideranças experientes dos partidos que vivem de favores e de nacos de fundos públicos, que o transformaram na rara oportunidade de governar por procuração, dirigindo o que é mais caro ao governo: a execução orçamentária.
Como partidos despreocupados com a imagem que lhes tem o eleitor e com as sequelas de suas ações, o ônus dessa parceria soa leve: deixar aprovar a pauta revisionista do bolsonarismo, como compensação aos projetos dos setores mais atrasados da economia, tipo o desmonte da legislação ambiental, a permissão para a criminosa titularização de terras públicas invadidas na Amazônia, a vandalização de reservas indígenas pelo garimpo, simultaneamente a refazer sem discussão a revisão tributária.
Bolsonaro pode ter dúvidas sobre onde quer chegar, mas o Centrão que lhe deu sobreviva sabe bem o que pretende.
Já esvaziou o direito de expressão da minoria na Câmara, ao dificultar a prática da obstrução e do tempo de fala. E investe, agora, para mudar a legislação eleitoral a fim de facilitar a reeleição dos “parças” e a oligarquia política.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, abraçou também a “causa” do voto impresso, como quer Bolsonaro para, diz ele, impedir “fraude com as urnas eletrônicas”, que não seriam auditáveis. Mas isso é falso. O processo tem 25 anos e nunca se comprovou nada que o desabone. Se aprovado, implicará a volta do voto de cabresto e outros ardis.
Não são reformas, são retrocessos, sobretudo nas áreas ambiental e da governança pública, em claro conflito com o previsto nos acordos do clima e pelo chamado ESG, acrônimo em inglês de Environmental, Social and Governance — regras de boas práticas de gestão privada e governamental. Elas recebem a adesão crescente de grandes empresas e investidores internacionais.
Se o revisionismo for endossado pelo Congresso, o custo a ser pago pelo país será alto. A possibilidade que se apresenta é de o Senado (menos exposto ao “bolsolão” governista) conter os disparates.
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