No caso da CPI da Covid, a governabilidade está sendo colocada sobre uma mesa onde, acredita-se, resta dinheiro a ser ganho. O único dinheiro, na verdade, já está indevidamente comprometido na farsa do Orçamento que, como bem definiu o senador Randolfe Rodrigues, deixou de ser pedalada para se tornar prova de ciclismo. Não há dinheiro, portanto.
Quanto à governabilidade em si, é palavra sacada sempre que não há governo. Como ação estruturada e coordenada, não há mais governo Bolsonaro. A sociopatia do presidente contaminou de tal forma o enfrentamento da pandemia que não há mais como deter de modo eficiente a propagação do vírus e empreender um programa de vacinação que evite dezenas de milhares de mortes a mais que poderiam ser poupadas, tivéssemos alguém com faculdades mentais inteiramente preservadas na presidência da República. Em relação à economia, o que se tem é um outrora superministro que não consegue fazer frente aos apetites da base de apoio fisiológico que sustenta Jair Bolsonaro. Na área ambiental, que deveria ser o nosso cartão de visitas internacional, inclusive a fim de garantir simpatias para agilizar a obtenção de vacinas num mercado onde a produção ainda está longe de dar conta das necessidades urgentes, temos um doido passando boiadas e defendendo madeireiras ilegais. No que se refere à educação, não é simplesmente prioridade, afora quando serve para fazer proselitismo ideológico. Milhões de crianças e jovens não têm condição de assistir a aulas remotas, por falta de equipamento e conexão, mas o governo é incapaz de comandar um esforço nacional para tentar equacionar minimamente esse problema gravíssimo, junto a governadores e prefeitos. As ilhas de excelência existentes na administração federal estão cada vez menores, consumidas pela erosão do descalabro geral.
A CPI da Covid não afetará, portanto, governabilidade nenhuma. Deveria ser encarada como a oportunidade para tirar logo do cargo um presidente da República de mente doentia e inepto. Mesmo os que acham que ainda têm a ganhar com Bolsonaro só têm a perder. Desse grupo, além dos fisiológicos, fazem parte Lula e o PT, que preferem ter o atual inquilino do Planalto como adversário em 2022. Em algum momento, contudo, o rombo fiscal e o custo em vidas serão cobrados de todos eles, superando qualquer benefício em vil metal ou votos.
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