domingo, 21 de março de 2021

Vacinação devagar, quase parando

Imagine a paciência que os aspones são obrigados a ter com Bolsonaro nesses dias em que a popularidade do chefe despenca como laranja bichada. Convencê-lo, por exemplo, de que a vacinação é a melhor e mais eficiente maneira de estancar o avanço da Covid-19:

"E se o senhor, digamos, o senhor que está perto de completar 66 anos, digamos que o senhor aproveite a data que se aproxima para entrar na fila com outros brasileiros da mesma idade e tomar a primeira dose, veja bem, a primeira, depois o senhor teria de tomar a segunda, e, mostrando o braço de atleta, receber a vacina e provar que o senhor não tem medo da picada e, digamos, que está a favor da vacinação?".


Se não xingasse os assessores ou encerasse a conversa abruptamente, como costuma fazer diante das perguntas incômodas de jornalistas, Bolsonaro teria um bom tempo para pensar na resposta. Seu aniversário é neste domingo (21), mas a vacinação está devagar, quase parando. No ritmo atual, a cobertura de 70% da população, a mínima necessária para que haja imunidade coletiva, não virá em 2021. As mortes, sim, deverão chegar a 300 mil ainda neste mês.

Os conselhos para que Bolsonaro pare de negar a gravidade da pandemia —o que faz desde março do ano passado, quando promoveu aglomerações em frente ao Ministério da Saúde para criticar soluções sanitárias do próprio órgão— foram reforçados depois da ressurreição de Lula. O capitão anda tão nervoso que não se pode mais nem chamá-lo de "pequi roído", pois lá vem processo.

Não está no seu horizonte nenhuma mudança na retórica populista que combate as medidas severas de isolamento. Bolsonaro enxerga nelas um complô, uma guerra contra sua reeleição —única coisa a que se dedica. Tanto que agravou a crise federativa ao pedir ao STF que restrinja o poder de governadores. Mais desperdício de tempo, significando mais vidas perdidas.

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