quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Silveira é surto febril de uma democracia doente

As manifestações criminosas veiculadas pelo deputado Daniel Silveira na internet podem ser comparadas a um surto febril. A prisão do parlamentar bolsonarista funciona como uma medicação antitérmica. A temperatura pode aumentar ou diminuir dependendo das reações da Câmara e do Planalto. Mas está claro que será necessário tratar da infecção para curar a doença. O paciente não é o deputado insano. Quem está doente é a democracia brasileira.

No vídeo que disparou o termômetro, o deputado se escorou em declarações que um ex-comandante do Exército não deveria ter feito. Defendeu um AI-5 que, se voltasse a existir, fecharia o Congresso, interrompendo o seu próprio mandato. Xingou e ameaçou um STF que o investiga por participar de um esquema de difusão de notícias falsas com ramificação no Planalto e por ajudar na organização de manifestações antidemocráticas das quais o presidente da República participou.



Nesse contexto doentio, Daniel Silveira é mera reação adversa de uma moléstia muito maior. A cura exigiria um tratamento multidisciplinar e simultâneo. Seria necessário varrer a política dos quarteis, expurgar o quartel da Saúde, devolver os magistrados aos autos processuais, desligar os extremistas da tomada, retirar os negacionistas do mundo da Lua, trocar decretos sobre armas por contratos de compra de vacinas. Tudo isso e mais uma cirurgia de redução de estômago no centrão.

A grande vantagem da democracia é que, se nada funcionar, o eleitor pode transformar a UTI numa maternidade, dando à luz algo novo. A magia dos momentos politicamente doentios é a possibilidade de redescobrir uma verdade que dá sentido ao regime democrático. Para os eleitos inconscientes, o eleitor impaciente é um santo remédio. Gente como Daniel Silveira e assemelhados não surgem por geração espontânea. No limite, quem controla o bisturi é você.

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