quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

No dia D. Na hora H

Quarentena ano 2. Confesso. Estou tomada de inveja. Primeiro, de quem mora à beira mar; de quem abre a janela e sente o cheiro do mar; de quem fez as malas, ligou o foda-se, e foi pra praia; de quem virou o ano com o pé na areia, pulou sete ondas e encharcou a roupa com a aguaceira de uma onda ousada. De máscara. Mantendo distância. Claro.

Mineiro já nasce com nostalgia do mar, padece de saudade atávica do mar, que tá ali pertinho, mas negou banhar Minas Gerais. Trem desacertado, sô! Na geografia, Minas é um dos quatro estados que fazem o sudeste.

Por que - valha-me Deus! - ficou sem mar? Cercada por São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo e seus mares, não dava pra trocar um pedacinho do grande nariz da terra mineira por uma nesgazinha que fosse de areia, praia e mar?

Enfim, não deu. Quis o destino que assim fosse. E os mineiros, até os que nascem e morrem sem nunca ver o mar, têm saudades atlânticas do Atlântico que é o mar mais perto e poderia ser um pouco também nosso.

Neste verão, nem queria, nem iria “glomerar”, só tirar uma casquinha do mar, da maresia, da brisa marinha.


A praia do verão é a inveja 1, neste janeiro. É meio eterna. Agora, inveja imensa mesmo, daquelas de envenenar o espírito, é de quem tem vacina, quem planejou comprar seringa, agulha e muitas doses da CoronaVac, da Sputinik, AstraZeneca, Janssen, Pfizer, Moderna. Sejam as de vetor viral ou de RNA. Com eficácia de 60 ou 90%. Com imunização de curto ou longo prazo. De uma dose ou 10.

Inveja de quem sabe e acredita que não há saída, ou imunizamos ao menos 70% da população ou o vírus segue comendo solto, adoecendo, mutando e matando – gente e o país.

Inveja monstra de Israel e Emirados Árabes Unidos onde a vacina avança em velocidade de Fórmula 1. Inveja de Portugal e da Inglaterra que avisam e marcam a vacina por WhatsApp. Inveja da Argentina e do Chile que têm presidentes se virando nos 30 para conseguir imunizar seus cidadãos.

Invejas dos países que se prepararam para a vacinação em massa e, mais rápidos ou mais lentos, estão empenhados em cumprir o dever humanitário de salvar vidas e devolver aos seus alguma normalidade possível em tempos de covid.

Inveja de ter um Presidente que junte o tico com o teco, que tenha um projeto – algum projeto de governo um pouquinho maior do que vender armas, brincar de pateta risonho, gravar lives e mentir diariamente pra seus iguais em obtusidade, que batem ponto matinal na porteira do Alvorada.

Inveja de ter um governo. Qualquer coisa à direita ou à esquerda, que, ainda que não agrade a todos, mostre-se governando, não batendo cabeça e continência para a incontinência verbal, para ignorância, para a inépcia.

Inveja dos que, na desgraceira da pandemia, têm um ministério atuando e um ministro da Saúde real, não um soldado cabeça de papel que, sem nem ficar vermelho, declare aos seus compatriotas, às famílias dos 200 mil mortos do covid, que aqui, no Brasil de hoje, teremos vacina no dia D, na hora H.</p>
Tânia Fusco

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