Sob a supervisão do ministro Luís Roberto Barroso, o deputado Eduardo Bolsonaro chega ao Ano Novo como alvo de apuração da Procuradoria da República sobre o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis no Rio de Janeiro. Coisa de R$ 196 mil, em valores corrigidos pela inflação.
A investigação é preliminar. Mas, considerando-se o histórico de Barroso, pode se tornar definitiva. O ministro não vê com naturalidade políticos que têm ojeriza ao sistema bancário.
Em 2018, ao votar a favor do envio de Aécio Neves para o banco dos réus, Barroso não digeriu a alegação do tucano de que uma propina recebida da JBS em espécie era apenas um empréstimo do amigo Joesley Batista.
"No mundo dos negócios lícitos", disse Barroso na ocasião, "um pagamento de R$ 2 milhões em quatro parcelas de R$ 500 mil se faz por transferência bancária."
Nas palavras do ministro, "ninguém sai por aí transportando mochilas e malas de dinheiro a menos que haja alguma coisa errada na operação."
Em outra iniciativa que terá desdobramentos depois do Réveillon, a ministra Cármen Lúcia ordenou ao procurador-geral Augusto Aras que apure a suspeita de que Jair Bolsonaro colocou a engrenagem da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, a serviço da defesa do primogênito Flávio no caso da rachadinha, eufemismo para corrupção.
Ao enumerar os delitos que podem ter sido cometidos, Carmen Lúcia incluiu na lista a expressão que faz tremer mandatos: "Crime de responsabilidade." O centrão não perde por esperar. Ganha.
A investigação sobre a Abin é prima do inquérito em que Bolsonaro é acusado por Sergio Moro de tramar a conversão da Polícia Federal num aparelho de proteção de familiares e amigos.
Isso ocorreria a partir da transferência do delegado Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, do comando da Abin para a direção-geral da PF. Uma migração que só não ocorreu porque o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, vetou.
Moraes também jogou água no champanhe dos Bolsonaro ao prorrogar por 90 dias inquéritos que azucrinam a primeira-família. Entre eles o que trata da politização da PF e o que apura o envolvimento de militantes, empresários e parlamentares bolsonaristas na organização e no financiamento de atos antidemocráticos.
O rol dos suspeitos inclui o vereador Carlos Bolsonaro, citado mais de 40 vezes no processo, e seu irmão Eduardo.
Pai e filhos desfilam suas fragilidades na instância máxima do Judiciário com tal assiduidade que muita gente logo começará a chamar o STF de Supremo Tribunal da Família.
Aos pouquinhos, vai ficando claro que Jair Bolsonaro é o chefe de uma organização familiar. Essa organização explorou durante as últimas décadas uma espécie de holding de servidores fantasma e de rachadinhas.
Com sede no gabinete do próprio Bolsonaro, na Câmara Federal, a holding familiar tinha filiais nos mandatos de Flávio, na Assembleia do Rio; e de Carlos, na Câmara municipal carioca.
Segundo o Ministério Público há na contabilidade da organização transações imobiliárias feitas em moeda sonante, uma fantástica loja de chocolates, repasses monetários para ex-mulheres do chefe do clã, e até depósitos do operador de rachadinhas Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle.
Um pai convencional, à medida que progride, cuida de preparar os filhos para a vida. Bolsonaro teve a pretensão de preparar a vida para os filhos. O problema é que proliferam os indícios de que a conta do empreendimento familiar foi espetada no déficit público.
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