domingo, 20 de setembro de 2020

‘Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso’

Na ânsia de encontrar provas do racismo em Monteiro Lobato e varrer das prateleiras de nossas crianças esse escritor perigosíssimo que fez gerações e gerações aprenderem a gostar de ler e pensar, os que não têm mais nada a fazer no MEC se esqueceram do segundo capítulo de Caçadas de Pedrinho: "Um Rinoceronte Interna-se Nas Matas Brasileiras”.

É fácil de explicar. Muito mais contundente que o conjecturado racismo em Caçadas de Pedrinho, o que Monteiro Lobato ensina à meninada, em uma crítica irônica, ferina, é o quanto a burocracia cega é prejudicial à eficiência dos governos em geral. E acharam melhor não chamar a atenção sobre esse detalhe.

Como disse a Emília ao funcionário do “Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte”: "Mas por que não discutiu isso durante a semana em que o rinoceronte andou sumido e a passagem pela porteira esteve completamente franca? Acho que Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso”.


A imposição obrigatória de um mesmo e único exame a todos os concluintes do Ensino Médio induz toda a Educação Básica do país a uma perspectiva cada vez mais padronizadora, inibindo inovações. A médio prazo, a tendência é uniformizante e empobrecedora para o sistema de ensino, pensa a Emília, rainha das implicantes.

Nós precisamos de mais escolas e mais professores, mas o inacreditável exemplo de amor à Pátria dos assessores de Vossa Rinocerência já nos indicou o caminho certo. Vamos abrir primeiro outro caminho, o Enem seriado que será chamado de Saab.

Nele, as provas dos alunos do ensino médio formarão uma nota a partir da pontuação adquirida em cada uma das três séries, que poderá ser utilizada para acesso ao ensino superior. Os estudantes que fizerem a prova da 1ª série em 2021 já estarão concorrendo a vagas nas universidades para quando concluírem o ensino médio, em 2023. Que tal?

Não é por nada que a Emília chama o MEC de Quindim. Lá Vossa Rinocerôncia se encontra com seus bravos assessores e dá ensejo à glória de nosso ensino e de nossos mestres. São poucas aulas, mas são muitas provas!

É muita dedicação, não é não?

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

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