sexta-feira, 17 de julho de 2020

Os rega-bofes do Queiroz

Um dia, quando os historiadores estudarem os anos bolsonaros, algumas questões poderão embatucá-los. Exemplo: como se explica que Fabrício Queiroz, íntimo dos Bolsonaros, com paradeiro ignorado e investigado por negócios de grande interesse dos dois, pode ter sido hóspede em Atibaia por mais de um ano de Frederick Wassef, então advogado dos mesmos Bolsonaros, sem que estes soubessem? Uma simples palavra de Wassef —“Fiquem tranquilos, o homem está comigo”— os teria poupado de aflições sobre esse paradeiro, que tantas vezes disseram desconhecer.


Outra: já que nunca estranharam as transações financeiras do amigo, por que eles não o abrigaram? Não seria por falta de opções —afinal, os Bolsonaros têm uma bela carteira de propriedades em vários estados, fora os apartamentos e salas que Flávio Bolsonaro comprava e revendia horas depois com lucro de 400 por cento. Talvez porque soubessem que Queiroz seria um hóspede complicado. O próprio Wassef se queixou de que, em vez de se manter discreto, Queiroz não sossegava —vivia pulando do sítio de Atibaia para os apartamentos do advogado em São Paulo e vice-versa e até para assistir ao filho jogar pelada na longínqua Saquarema.

E tudo isso durante um delicado tratamento de câncer de cólon, que o obrigava a idas a hospitais, ocasiões que aproveitava para passar na quitanda e se equipar para os churrascos, cervejadas, réveillons e outros rega-bofes que promovia com os amigos no famoso sítio.

Agora em prisão domiciliar, Queiroz será dispensado desses atropelos e poderá se dedicar melhor ao tratamento. Sua mulher, Márcia, cuidará dele, o que não pôde fazer enquanto também ficou fora do ar.

Os futuros historiadores só estranharão por que o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, não convidou o casal para sua cerimônia de posse no STF na vaga de Celso de Mello.
Ruy Castro

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