A primeira lição, disse Rebelo, é “muito óbvia”: “O mais importante da vida é precisamente a vida e a saúde. Todo o resto perde sentido sem vida e saúde. Educação, trabalho, divertimento, o esporte, nada é possível sem vida e saúde. Se a pandemia é de todo mundo, deve ser todo mundo, unido, a tratar, prevenir, evitar e depois responder, combater”. Lições humanas e online de um presidente para crianças e adolescentes, num cenário com estantes, livros, telões e lápis de cor.
No outro vídeo, o que me enojou, o protagonista também era um presidente. Do Brasil. Em visita ao Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, Bolsonaro treinou sua pontaria. Que anda bem falha no Planalto. Bolsonaro parou no estande de tiros e fez disparos contra vários alvos com armas diferentes. Dez tiros. Ostentação contra os inquéritos do STF e a prisão do amigo e arquivo ambulante Queiroz?
Bolsonaro posou sorrindo com o filho e guarda-costas Carluxo. Que imagens ofensivas num país em luto crescente, com mais de 1 milhão de contaminados pelo coronavírus e mais de 50 mil mortos. O Brasil pode ter dezenas de milhares de mortos a mais, a julgar pelo aumento de vítimas de insuficiência respiratória aguda em 2020.
Parafraseando a jornalista Andrea Sadi na entrevista com o advogado esquisito e caído em desgraça, Bolsonaro não pulou o muro do Alvorada nem chegou ali voando. Foi eleito. Democraticamente. Somos governados por quatro Bolsonaros, pessoal. Quatro. Preconceituosos, machistas, defensores da ditadura, tortura, censura e do AI-5, investigados por fake news, amigos milicianos e rachadinhas. Nomearam ministros boquirrotos, cínicos e ignorantes, como o abominável Weintraub, que deveria ser barrado no Banco Mundial. Fritaram outros.
O risco Bolsonaro sempre existiu. A pandemia só acentuou. Ninguém sabe quando atingiremos o pico do coronavírus no Brasil. Também não atingimos o pico do bolsonavírus. Precisamos achatar as duas curvas. A vacina do covid será descoberta, espero, o mais breve possível. A vacina contra presidentes como Bolsonaro já foi descoberta há tempos. A prevenção é a urna e o voto consciente. O remédio é o afastamento. Social e político.
O Brasil não merece. Esse título aí está errado. Foi mal. Inspirado na frase de um filósofo monarquista e católico do século XVIII, Joseph de Maistre: “Toda nação tem o governo que merece”. Mas ninguém merece Bolsonaro. Sempre que trabalhei na Europa, ser brasileira me abria as portas. Via nos olhos estrangeiros uma simpatia, uma admiração, uma quase inveja. Nossa imagem era de alegria. Vinha de um otimismo teimoso e um afeto especial nas relações humanas. Sol e mar. Música e dança. Calor e criatividade.
O europeu aprendia uma saudação logo ao chegar aqui: “E aí, tudo bem?” Agora, vejo nos olhos estrangeiros horror, estupefação e pena quando digo que sou brasileira. É surreal! Essa é a palavra que mais ouvimos e falamos. Esse país é surreal. No dicionário, significa “não condizente com a razão”, “para além do real”. O absurdo. O único país sem ministro da Saúde ou plano médico de combate à pandemia. Ah, Bolsonaro, vai...vai aprender com o presidente de Portugal. Se o deixarem entrar.
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