A situação é tão desesperadora que, nesse momento, o coronavírus é o menor dos problemas do Brasil. Já se prevê uma vacina em futuro razoável, adivinham-se possíveis anticorpos aqui e ali, a Ciência funciona e, mais cedo ou mais tarde, estaremos livres disso, assim como ficamos livres de outras doenças — a peste bubônica, várias gripes, a paralisia infantil, a meningite, a Aids. Elas não desapareceram, mas já as conhecemos e as combatemos com eficiência suficiente para não temê-las mais (ou não temê-las tanto).
Mais difícil vai ser encontrar uma cura para a maldição que rege Brasília. E que não, não vem de 2018, embora nesse ano tenha chegado a um patamar nunca antes atingido na História desse país. Saímos cheios de esperança da ditadura — para cair em Sarney e Collor. Elegemos Fernando Henrique — mas ele nos legou a reeleição, essa sim a verdadeira Herança Maldita, que fez com que todos os que se sentassem depois naquela cadeira desgraçada sonhassem em se fincar no poder até o fim dos tempos (ou, pelo menos, até o fim das reeleições possíveis).
De desastre em desastre viemos dar aqui: um sociopata genocida apoiado por militares.
Não é difícil entender Bolsonaro. Ele é um Napoleão de hospício com poder real, com a caneta que é, afinal, o sonho de todo Napoleão de hospício. Numa sociedade saudável, porém, Napoleões de hospício estão, obviamente, no hospício, e não na Presidência da República.
Não é difícil entender Bolsonaro. Ele é um Napoleão de hospício com poder real, com a caneta que é, afinal, o sonho de todo Napoleão de hospício. Numa sociedade saudável, porém, Napoleões de hospício estão, obviamente, no hospício, e não na Presidência da República.
O Napoleão de Hospício é doido, mas as pessoas que estão ao seu redor não são.
Por isso, paradoxalmente, é tão difícil entender o fenômeno Bolsonaro, sobretudo para além das eleições. Eleitores desesperados (ou seja, quase todos, sempre) fazem qualquer coisa, de entregar países a tiranos ou cidades a rinocerontes. Mas uma coisa é entregar uma cidade a um rinoceronte, outra deixá-lo governar e, ainda por cima, incentivar os seus arroubos.
Cacareco continuou no zoológico; Jair Bolsonaro é presidente.
Os militares passaram os últimos 35 anos tentando mudar a imagem sombria que conquistaram durante a ditadura. Ainda que não possam reescrever a História, tiveram êxito. Respeitaram a constituição, trabalharam muito e falaram pouco. As pesquisas de opinião mostram que reconquistaram a confiança da população.
Agora, como se 1964 não tivesse acontecido nunca, começam a sair dos quartéis e se aliam a um homem que foi afastado das Forças Armadas por indisciplina e deslealdade.
É fácil entender o Napoleão de hospício; é fácil até entender a sua família, porque genética é, como sabemos, uma coisa hereditária. Mas é impossível entender os altos oficiais que se mantém ao seu lado, e que não se envergonham em bater palma para o maluco dançar.
É fácil entender o Napoleão de hospício; é fácil até entender a sua família, porque genética é, como sabemos, uma coisa hereditária. Mas é impossível entender os altos oficiais que se mantém ao seu lado, e que não se envergonham em bater palma para o maluco dançar.
Que papelão, Forças Armadas, que papelão.
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